«Há uma base de talento que não está a ser utilizada na economia», afirmou o Secretário de Estado Adjunto e da Economia, Leonardo Mathias, acrescentando: «O que estamos a fazer, ao prescindir de ter mulheres nos Conselhos de Administração, é estarmos a abdicar de talento. E ao abdicar de talento, estamos a abdicar do potencial de crescimento e isso preocupa a economia».
Estas declarações foram feitas à saída de uma reunião com 22 empresas cotadas em Bolsa, no Ministério da Economia, para abordar a representação das mulheres nas administrações. Esteve também presente a Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais.
«Ser mulher em Portugal não dá acesso aos Conselhos de Administração e é uma questão que me recuso a aceitar quando vejo que são mais e têm melhor formação. Se calhar também temos um problema de meritocracia nas empresas», referiu ainda o Secretário de Estado, questionando: «Se temos mais mulheres em bacharelatos ou licenciaturas e mestrados, se temos mais mulheres na população portuguesa, qual é a razão para que as mulheres não estejam no topo dos processos de decisão das empresas?».
Sublinhando que, «quando se olha para dados de progressão de carreira, a representação das mulheres nos Conselhos de Administração é de 9%, enquanto a média da União Europeia é de 19%», Leonardo Mathias afirmou também: «No caso das empresas do setor privado cotadas em bolsa, 4,5% são presidentes do Conselho de Administração, enquanto no setor empresarial do Estado, este valor sobe para 9,4%».
«O setor empresarial do Estado, não estando numa situação ideal, leva um avanço muito significativo face às empresas cotadas nesta matéria, tendo-se registado uma ligeira melhoria, de 2013 para 2014», acrescentou a Secretária de Estado.
Sobre o encontro com as empresas cotadas, Teresa Morais afirmou que «a reunião foi muito produtiva, tendo sido abordadas as diferenças salariais entre homens e mulheres. O objetivo era ouvir as empresas para avançarmos nesta meta de levar mais mulheres aos Conselhos de Administração, de forma a torná-los mais representativos daquilo que é a sociedade portuguesa».
«Apesar de termos feito alguns progressos, se continuarmos a crescer a este ritmo, precisamos de 24 anos para atingirmos o limiar da paridade de 33%», realçou a Secretária de Estado, referindo: «Não me resigno com indicador atual, pois estamos num país em que a maioria da população qualificada é feminina, e são também as mulheres as principais responsáveis pela esmagadora maioria da compra de bens e serviços. Contudo, as empresas não valorizam as suas qualificações, mantendo os obstáculos para que as mulheres alcancem lugares de topo nas organizações».
Para Teresa Morais, «temos uma classe empresarial que tem de rasgar o horizonte. Não é normal que a maioria das empresas portuguesas desvalorize por completo não existir uma mulher nos seus Conselhos de Administração».
«A responsabilidade para o progresso de mais mulheres nas administrações está nas empresas, que têm a capacidade de decisão nas mãos. Se não querem que os Governos tomem medidas legislativas, então que resolvam o problema antes», concluiu.
Para a semana, o Governo vai reunir com as confederações empresariais e outras associações, para debater o tema da igualdade de género no topo da hierarquia das empresas.
Segundo dados dos Censos 2011, as mulheres representam 52% da população portuguesa, do total de alunos que concluiu ou frequenta um bacharelato 57,5% são do sexo feminino, enquanto nas licenciaturas a percentagem sobe para 58,6%. A nível de mestrado, os dados revelam mais de 134 mil mulheres (56%).