«Os compromissos [com a troika] têm uma componente boa, e uma
que condiciona a economia», afirmou o Ministro da Economia, António
Pires de Lima, em entrevista ao jornal Público.
Afirmando que «a componente boa é a reformista», o Ministro
referiu «o facto de termos um ambiente mais concorrencial, de
termos executado ou estarmos a executar algumas medidas que tornam
o País menos burocrático». «A troika tem tido um papel positivo
porque acelerou a dinâmica destas reformas. Temos calendários
apertados que temos de cumprir, há um fator de pressão nestas
matérias que é positivo», acrescentou.
Contudo, «há uma outra perspetiva em que a troika é
condicionante porque, ao obrigar-nos a corrigir determinados
défices de forma tão agressiva, há algumas medidas económicas que
gostaríamos de tomar - nomeadamente, ao nível da fiscalidade - que
ficam prejudicadas ou atrasadas», referiu António Pires de
Lima.
Quanto a uma eventual baixa de impostos, o Ministro aponta 2015
como o ano em que esta será possível: «Acho que é fundamental
entrarmos num registo que dê esperança às pessoas», uma vez que
estas «vivem do seu trabalho e estão a pagar impostos de uma forma
insustentável, o que é muito desmotivante».
«E isto não afeta só os rendimentos mais altos […] Estou a falar
também dos rendimentos da classe média, que tem níveis de
fiscalidade que considerávamos impensáveis há cinco ou seis
anos».
Sobre as diferenças entre os sectores público e privado, o
Ministro lembrou que «não se pode gerir um Ministério como se gere
uma empresa» porque «quando se está a governar, está-se a governar
para todos os portugueses, enquanto, quando se está a gerir uma
empresa, está-se a fazê-lo para os acionistas, com os trabalhadores
que lá estão. Hoje são uns, amanhã são outros».
Assim, «os tecnocratas que julgam que se pode gerir um país como
se gere uma empresa falham redondamente na política», afirmou
António Pires de Lima.
Acrescentando que já «sabia que não podia replicar aquilo que
era a liderança de uma empresa privada quando se está a tratar da
governação do País e daquilo que é um serviço público», o Ministro
referiu ainda que «o ritmo do Estado é diferente do setor privado,
até em termos de adaptabilidade de reestruturação». Desta forma,
«não é possível, nem é desejável» que se transponham para o setor
público certas práticas características das empresas.
E concluiu: «O maior desafio que tenho como Ministro da Economia
é provar que, não copiando o que fiz nas empresas privadas, é
possível fazer a execução de resultados a que me comprometi».