Defender a Revolução
- Linhas de Ação Programática e Tarefas de
Transição
I - MANDATO E ORIENTAÇÃO DO V GOVERNO
1 - Do Governo e seu mandato
a) Heranças de IV Governo. Crise de
autoridade
O IV Governo, constituído na sequência do 11 de março e após a
institucionalização do Conselho da Revolução e Assembleia do
M.F.A., funcionou em sistema de coligação partidária que veio a
revelar-se inviável.
Foi contudo na sua vigência que foram adaptadas e concretizadas
as medidas de mais profunda transformação social e económica na
lógica irreversível do avanço para o socialismo, medidas tomadas
sob a orientação e diretiva dos órgãos de maior responsabilidade
revolucionária:
Assembleia do M.F.A. e C.R.
Apontaram-se claras opções políticas e atacou-se com decisão o
capitalismo monopolista e latifundiário através de medidas de
caráter jurídico, económico, social e político, assim se
estabelecendo condições favoráveis à caminhada socialista mas que,
por outro lado, estarão na base das tensões e crises que levaram à
dissolução do IV Governo Provisório, bem como à agudização da atual
crise política e militar. Esta crise, pontuada pelos violentos
ataques verbais e até físicos às forças progressistas e
revolucionárias, possibilitou um crescendo da contrarrevolução e,
concomitantemente, veio contribuir para a diluição da unidade e da
autoridade revolucionárias, de que são sintoma as alianças
paradoxais de certas forças políticas até aqui empenhadas no
processo.
São fatores agravantes e igualmente causais desta situação de
crise:
- os ataques concertados da reação externa tendentes e isolar e
a desmoralizar o País:
- as dificuldades enormes da descolonização em Angola, herança
pesada da política spinolista;
- os reflexos sobre a frágil economia portuguesa da crise
económica geral do capitalismo;
- os desequilíbrio e instabilidade provenientes do necessário
desmantelamento das estruturas monopolistas e fascistas, enquanto
não se põem de pé novas estruturas democráticas e revolucionárias e
não se estimula a vida das novas instituições a partir de
motivações diferentes das da sociedade de consumo capitalista, que
hão de resultar das transformações operadas na sociedade
portuguesa.
b) Condicionamento e pressupostos do V
Governo
O V Governo assumiu a missão de agir de forma unitária e não
partidária, possibilitando pausa política para ultrapassagem da
crise político-militar e assegurando uma firme defesa das
conquistas revolucionárias, quer contra a vasta movimentação
reacionária - ataques a sedes de partidos políticos progressistas,
campanha na imprensa estrangeira, manobras dirigidos por
organizações fascistas nacionais e Internacionais, brutal
ingerência estrangeira nos assuntos portugueses, quer contra
tentativas de desestabilização do processo revolucionário português
por formas capitalista de tipo social-democrata.
Todavia, sendo um Governo não partidário, a sua ação só é
possível com o apoio popular e o apoio do M.F.A..
Apoio popular que terá te assentar na clara consciência da grave
situação do País e que se irá consolidando e alargando na medida em
que as ações anunciadas e sucessivamente realizadas responderem,
efetivamente, aos anseios e aos interesses reais e profundos do
povo português.
Apoio das Forças Armadas que terá de consubstanciar-se na
firmeza e clareza da orientação política por parte do Diretório do
Conselho da Revolução e na identificação da sua linha de ação com
as opções e diretivas revolucionárias e patrióticas formuladas pelo
Movimento das Forças Armadas.
Não apresentando o Governo outro programa que não seja o de
concretizar e defender a revolução, acima de compromissos e de
conflitos partidários, tem de lhe ser dada toda a autoridade e toda
a força de que dispuser a própria revolução, não podendo, neste
contexto, deixar de se confundir com uma crise da própria
autoridade revolucionária qualquer sintoma de fraqueza do Governo
no cumprimento do seu programa mínimo.
Sem uma clarificação da estrutura do poder político será
impossível a realização das tarefas governativas e, assim, a
concretização dos objetivos já assumidos pela revolução
portuguesa.
Na verdade, e como se tornou patente nas últimas semanas da
vigência do IV Governo Provisório, as dificuldades postas à
revolução pelas forças conservadoras aumentam à medida em que o
caráter irreversível do processo revolucionário se vai tornando
mais patente e se torna mais nítida a impossibilidade da sua
recuperação pelas estruturas monopolistas e fascizantes. Isto é
natural e conhecido da história das revoluções; mas é também
conhecido que compete a qualquer direção revolucionária consequente
mobilizar, nestes momentos decisivos, todas as forças disponíveis
na defesa e concretização das conquistas já alcançadas; nestes
momentos, hesitação ou contemporização com os inimigos, declarados
ou encobertos, da revolução significa abdicar dela e inverter o seu
curso.
Presa a compromissos concretos com o povo português,
consubstanciados nos últimos documentos provindos do Conselho da
Revolução e da Assembléia do M.F.A., a vanguarda revolucionária
constituída pelos militares progressistas pode estar certa de que
encontra neste V Governo o instrumento leal e devotado de
realização desses compromissos; instrumento que, todavia, terá de
apoiar com o seu prestígio revolucionário e, sendo caso disso, com
a mesma decisão com que na madrugada do 25 de Abril iniciou a
libertação da nossa pátria.
c) Projeto político que informa o Governo
O V Governo Provisório surgiu como uma solução transitória
destinada a pôr termo a crise política criada no País. Não lhe
compete e elaboração de programas ambiciosos e, muito menos a
produção de documentos de profunda a exaustiva reflexão política
aplicada à presente situação portuguesa. Uns e outros foram já
definidos, quer pelo Conselho Superior da Revolução quer pela
Assembleia do Movimento das Forças Armadas e representam reais e
efetivas conquistas das classes trabalhadora a que importa dar
execução urgente. O que o nosso povo espera do novo Governo, tal
como foi assinalado por Sua Excelência o Presidente da República no
discurso da tomada de posse, é um conjunto de respostas a problemas
concretos que não deixem margem para dúvidas acerca do tipo de
sociedade pare que se quer caminhar. E assim terá de ser
transparente, a propósito de cada ação concreta, se ela está ou não
ao serviço das grandes massas desprotegidas do povo português
(assalariados agrícolas e pequenos e médios agricultores;
operários, pescadores e demais trabalhadores das zonas urbanas,
entre os quais grande número de funcionários públicos; pequenos e
médios comerciantes e industriais, sem esquecer os emigrantes e por
razões de emergência - os retornados de Angola).
No entanto, essas ações concretas devem ser enquadradas num
esquema coerente, que o V Governo Provisório terá de elaborar a
partir do seu próprio diagnóstico da realidade económica, social e
política de País e a partir, essencialmente, daquele conjunto de
documentos e decisões do MFA a que ninguém ousará negar
legitimidade e das orientações irreversíveis que vêm do Governo
anterior. Assim, constituem guias para o enquadramento das medidas
concretas de política dos vários ministérios: o Programa do M.F.A.,
interpretado pela Plataforma de Acordo Constitucional e pelo Plano
de Ação Política; os princípios gerais do documento-guia sobre a
aliança Povo-M.F.A., aprovado apenas na generalidade pela
Assembleia do Movimento das Forças Armadas; o texto elaborado
durante o IV Governo Provisório acerca dos problemas da transição
para o socialismo.
Além disso, e tendo em atenção o valor revolucionário do
documento elaborado por oficiais afetos ao Copcon, o V Governo
tomou igualmente em consideração os princípios e propostas nele
contidos.
Dos parâmetros assim traçados à atuação deste V Governo
Provisório deriva um certo número de princípios fundamentais que
deverão constituir o elemento impulsionador de toda a sua
atividade. Nestes termos, as tarefas concretas a realizar visarão
nomeadamente os seguintes objetivos: unificação progressiva da
vanguarda política da revolução e do seu suporte social;
estruturação progressiva dos órgãos unitários de base em ligação
com o M.F.A.; desenvolvimento da consciência social do processo em
curso, pela revolução cultural e utilização correta e responsável
dos meios de comunicação social; superação da crise resultante do
desmantelamento do poder monopolista do grande capital; criação de
condições para uma economia planificada, controlada pelos
trabalhadores e orientada eficazmente para a transição para o
socialismo; descentralização administrativa em articulação com a
orgânica do planeamento; adoção de ações consequentes na política
externa, em obediência no princípio da independência nacional a
promovendo esquemas de cooperação que contribuam efetivamente para
a construção do socialismo em Portugal.
2 - Linhas de ação e de orientação do V Governo
a) Independência nacional
A política externa do V Governo Provisório será pautada pelo
reforço da independência nacional e da paz e segurança
internacionais, pelo alargamento da cooperação fraterna com todos
os povos do mundo, pelo respeito dos anteriores compromissos
internacionais, pela não interferência nos assuntos internos dos
outras países, pelo reconhecimento do direito dos povos a decidirem
dos seus próprios destinos, pela solidariedade com os povos em luta
pela sua emancipação.
O Governo tem consciência de que não é no isolamento
internacional, ou em exclusivas dependências tradicionais ou
outras, que se poderá obter um ambiente internacional propício à
marcha da nossa revolução. Tal ambiente conseguir-se-à através de
uma estreita ligação às forças progressistas de todo o mundo, sem
distinção de blocos ou de zonas de influência.
Com a defesa intransigente da independência nacional e da
cooperação pacífica com todos os povos do mundo, entende o Governo
defender o nosso País de toda e qualquer ingerência ou pressão
estrangeira. Nesse sentido, o Governo esforçar-se-á, dentro do
respeito pelas obrigações internacionais anteriormente assumidas,
por conduzir uma política internacional que coloque o nosso País
numa situação que melhor lhe permita reforçar a sua independência e
estabelecer relações justas e paritárias com todos os países do
mundo, com relevo para aqueles a quem nos ligam laços históricos
profundos (nomeadamente as nossas ex-colónias) ou que estejam em
condições de melhor compreender e apoiar o nosso processo
revolucionário rumo ao socialismo. Paralelamente, é necessário
fazer um grande esforço tendente à reposição de verdade sobre
Portugal ao nível internacional, combatendo a campanha de difamação
orquestrada contra a revolução portuguesa, através de uma
diplomacia ativa e revolucionária que contraponha aos interesses
partidários ou pessoais os superiores interesses de revolução
democrática a de transição para o socialismo, e desenvolvendo um
esforço concertado de informação correta da revolução e dos
objetivos que lhe dão sentido e presidem à política do Governo.
Por outro lado o desenvolvimento das relações com os países do
Terceiro Mundo, considerado objetivo importante da política externa
do V Governo Provisório, virá reforçar o papel a desempenhar por
Portugal no âmbito da Europa a que pertencemos, cuja cooperação e
assistência reconhecemos como proveitosa e desejamos sem cedências
nem ingerências nos nossos assuntos internos, sendo igualmente de
acelerar a intensificação de relações com os países socialistas do
Leste.
A defesa dos trabalhadores portugueses emigrantes espalhados
pelo mundo, através da celebração de acordos que regulem os fluxos
migratórios e estimulem as condições de trabalho e as garantias
sociais e económicas, merece também a melhor atenção do V Governo
Provisório, interessado como está em reforçar os laços entre todos
as trabalhadores portugueses e a defendê-los, dentro e fora do
País, contra as campanhas divisionistas.
b) Descolonização
A descolonização, objetivo da revolução portuguesa - que
historicamente relaciona a libertação do povo português com as dos
povos irmãos das colónias - atravessa em Timor e Angola fase
extremamente grave e preocupante. Se a situação geopolítica deste
último território fazia prever claras interferências exteriores no
seu processo de descolonização, as divergências entre os três
movimentos de libertação não possibilitaram um desenvolvimento
criador da plataforma do acordo do Alvor. Para além de todos os
esforços com que se procura contribuir para a solução justa e
correta para o povo angolano já tão martirizado e agora envolvido
em luta entre irmãos, surge ainda a gravíssima situação da
população portuguesa que não encontrando naquele território e neste
momento condições mínimas de estabilidade social e segurança se
deslocam para Portugal em condições de graves consequências
pessoais e coletivas.
Particular atenção merecem os problemas desses muitos milhares
de retornados portugueses, traumatizados pelos acontecimentos
recentes ocorridos nos territórios em que viviam, e vítimas, na sua
grande maioria, por um lado, da política de guerra e de exploração
coloniais que o regime fascista obstinadamente levou a cabo e, por
outro, dos graves erros na condução da descolonização cometidos na
sua fase spinolista, em que, pela prática de uma política apostada
na defesa dos interesses imperialistas e neocolonialistas, no
reforço político e militar dos grupos que, em Moçambique e Angola,
os representavam, se criou uma situação de instabilidade que, no
segundo território, ainda hoje se mantém.
Em face desta situação, o Governo prosseguirá ativamente
negociações a nível bilateral e internacional, no âmbito das Nações
Unidas e seus organismos especializados para que seja dado o
necessário apoio às operações de assistência a refugiados e
populações deslocadas, alertando igualmente a comunidade
internacional para a gravidade da situação.
d) Aliança com as classes trabalhadoras como base social
da Revolução
A grande decisão tomada pelo M. F. A., e claramente apoiada por
múltiplas formas e em várias oportunidades pelo povo português, é a
construção de uma sociedade socialista: "sociedade sem classes,
obtida pala coletivização dos meios de produção, eliminando todas
se formas de exploração do homem pelo homem e na qual serão dadas a
todos as indivíduos iguais oportunidades de educação, trabalho e
promoção, sem distinção de nascimento, sexo, credo religioso ou
ideologia".
A classe trabalhadora (operários, assalariados agrícolas,
empregados) é aquela que mais imediatamente está em condições de
impulsionar a revolução; mas numa sociedade e estrutura económica
como a portuguesa, em que as objetivos imediatos da Revolução são a
construção de um Estado democrático, pela desmontagem das
estruturas políticas, sociais e culturais do fascismo e pela
destruição da dominação económica e social dos monopólios e dos
grandes agrários, também os pequenos agricultores podem empenhar-se
em ações de profunda transformação, que diretamente alterem, para
melhor, a sua condição sacrificada, sendo ainda possível mobilizar
para a construção socialista a pequena burguesia vivendo do
comércio e indústria, as camadas intelectuais e parte da média
burguesia.
Tais são os grupos da população portuguesa que virão a
beneficiar da Revolução. Porém, até agora, se as vantagens têm sido
sensíveis para parte da classe trabalhadora, em contrapartida a
pequena burguesia e, em especial os agricultores, veem a sua
situação económica a deteriorar-se. Há, pois, que adotar,
rapidamente, medidas concretas que deem viabilidade à pequena e a
muita da média empresa e que façam justiça ao esforço dos
agricultores. Há que pôr um travão às disparidades crescentes entre
o campo e a cidade, trabalhando pela unidade revolucionária de
ambos os setores. Há que realizar imediatamente uma ação
esclarecedora e tranquilizante junto das populações da província,
mais duramente traumatizadas e enganadas pelas atuações dos grupos
neofascistas - cuja neutralização decidida compete sem dúvida às
autoridades militares, constituíndo mesmo uma condição prévia para
a extensão do impulso revolucionário a todo o País e a todo o
povo.
e) Revolução cultural
Uma das tarefas urgentes, embora de realização persistente e
continuada e cujos frutos não será possível antecipar a breve
prazo, é a tarefa da revolução cultural do povo português.
Socialismo não significa apenas melhores condições materiais
derivadas de uma diferente justiça social. Socialismo significa uma
outra qualidade de vida, um outro tipo de convivência entre as
pessoas, onde o egoísmo dos interesses imediatos cede o lugar à
busca do interesse coletivo, à solidariedade entre os homens que
partilham o mesmo destino.
Para tento, há que mostrar, sem recorrer a qualquer tipo de
propaganda ou de demagogia, que tal projeto de vida é na verdade
superior, proporcionando maior felicidade e alegria. O povo
português fará a sua própria revolução cultura1 através da verdade
serena e não enquanto vítima de uma intoxicação massiva.
As responsabilidades do Governo neste domínio são por
consequência claras. Ao Governo, através dos departamentos
competentes, designadamente nos domínios Comunicação Social, da
Educação e da Cultura caberá desencadear uma política de abertura e
de verdade. Será responsabilidade do Governo facultar o acesso às
fontes de informação e clarificar os grandes objetivos conjunturais
bem como estruturais, promovendo em amplos debates públicos o livre
exercício da crítica serena e construtiva através dos quais possa o
Povo Português melhor compreender e melhor decidir sobre o seu
próprio destino.
Será igualmente responsabilidade do Governo facultar o acesso à
cultura por forma a que esta deixa de ser o jardim das delícias de
alguns privilegiados para se tornar o património de todos os
portugueses. Ação de outra envergadura e com outra profundidade
será a ação da Escola. Não se trata, todavia, de objetivo que se
leve a termo nos limites temporais de um Governo de Transição.
No entanto, espera o V Governo estabelecer as bases de uma
reforma democrática da escola, que a purifique do elitismo do
passado e a coloque decisivamente ao serviço da democratização de
sociedade portuguesa e da renovação das estruturas culturais num
sentido progressista.
Estas tarefas, de grande alcance no domínio da Informação e da
Cultura, não poderão apenas limitar-se a iniciativas governamentais
sob pena de se cair no dirigismo panfletário e demagógico, negando
a própria essência do ideal socialista que se deseja construir.
Torna-se pois necessário e imperativo que a consciencialização
social passe pelos próprios agentes que estabelecem a ponte entre
os centros de decisão e o Povo, designadamente, profissionais da
informação, intelectuais e artistas. Deles espera o Governo a maior
colaboração e sentido de responsabilidade, entendendo-se por
responsabilidade esse voto abnegado de participar e de aderir a um
projeto coletivo, partilhando dos sucessos, bem como dos desaires,
e não a simples contrapartida de uma consciência individual e
individualista.
O Governo, apostado e confiante nesse tipo de diálogo,
diligenciará no sentido de estabelecer os necessários canais
ascendentes e descendentes com esses seus interlocutores mais
imediatos, esperando que eles por seu turno saibam multiplicar os
diálogos à escala internacional.
f) Alternativas face à crise económica
1) A alternativa social-democrata
A crise económica que o País atravessa traduz-se em elevada taxa
de desemprego, quebra na produção e no investimento e desequilíbrio
acentuado na balança de pagamento. Essa situação resulta de vários
fatores: estruturas económicas herdadas pelo fascismo; dependências
externas relativamente a países capitalistas que atravessam também
uma grave crise económica e que, além disso manifestam em geral
políticas hostis ao processo português; perturbações e
responsabilidades resultantes da descolonização, sobretudo
contribuindo para agravar o problema do desemprego e acentuando
também as dificuldades financeiras e cambiais do País; finalmente,
desorganização do aparelho produtivo após a destruição da maior
parte dos centros monopolistas do capitalismo português, situação
característica duma fase de transição para o socialismo.
Atacar esta situação requer, antes do mais, uma perspetiva
política correta. Para defini-la põem-se três questões com
respostas alternativas possíveis:
Quem paga a crise?
A quem serve a crise?
Que ajudas externas podem servir-nos?
A solução de social-democrata, na sequência do IV Governo
Provisório, traduzir-se-ia pelas seguintes consequências:
a) Os custos da crise seriam suportados sobretudo pelos
trabalhadores já que o largo apoio burguês ao projeto
social-democrata é contraditório com a imposição de sacrifícios
pesados ao seu próprio suporte social.
b) A "crise" serviria também para o regresso a uma economia
baseada no lucro a na empresa privada já que não poderia tal
projeto mobilizar os trabalhadores para a necessária batalha da
economia. Só com novas tentativas de repressão e exploração da
classe trabalhadora seria possível pôr a "economia a funcionar" ao
serviço dum projeto desta natureza, e em clima de austeridade.
c) Quanto às "ajudas" externas seriam certamente abundantes na
mesma medida em que o processo revolucionário português fosse
contido e domesticado ao nível dos grandes interesses do
capitalismo internacional.
2 - Alternativa socialista
A alternativa socialista do V Governo é a que se concretiza nas
ações e medidas previstas nas páginas seguintes.
Em lugar duma discussão ideológica e abstrata prefere-se a
definição precisa de posições face aos problemas imediatos mais
decisivos da transição para o socialismo.
g) Descentralização político-administrativa
Uma estratégia de descentralização administrativa torna-se
imperativa na presente fase por três ordens de razões: conduzir à
desburocratização do atual aparelho do Estado, superando a sua
atual falta de resposta às tarefas essenciais a desenvolver;
maximizar o aproveitamento das iniciativas e recursos locais,
possibilitando adequada mobilização para o desenvolvimento
económico e social; e pôr ao alcance do controlo das estruturas
unitárias de base em formação, centros de decisão regional e local
finalmente dotados de capacidade e meios de ação.
A estratégia de descentralização administrativa será conseguida
por dois processos paralelos: a formação de órgãos da execução e
planeamento no âmbito regional - que integrarão os órgãos
periféricos agora dependentes de cada ministério do aparelho
central - e, a nível local, o reforço dos meios financeiros e
técnicos à disposição dos executivos municipais mediante um
processo de redistribuição progressiva dos recursos tendentes a
reduzir as desigualdades das respetivas áreas e a promover a
resolução das necessidades mais prementes das populações
correspondentes.
Numa primeira fase, dada a existência das Regiões Militares e o
seu papel predominantemente político-militar, o primeiro passo para
a formação de órgãos regionais consiste na institucionalização de
juntas de administração e desenvolvimento, que se articularão às
decisões da planificação nacional através dos respetivos
departamentos.
O controlo da atuação dos órgãos descentralizados regionais pelo
poder político revolucionário será assegurado, nesta fase, por
órgãos de fiscalização e orientação do Governo Central e pela
articulação às Regiões Militares ou Comandos Territoriais, bem como
por representantes municipais e de trabalhadores, tendendo-se para
a formação de órgãos autárquicos de harmonia com o desenvolvimento
das estruturas populares de base (comissões de moradores e
comissões de trabalhadores).
Do mesmo modo, os executivos autárquicos de âmbito local,
obrigar-se-ão ao constante diálogo com os órgãos de base populares
em formação que reivindiquem a participação e a crescente
interferência na ação desses executivos - o que pressupõe lhes
sejam devolvidas responsabilidades crescentes em domínios
essenciais ao bem-estar das populações, pressupondo-se também a sua
consequente e progressiva legitimação à medida que se processar o
desenvolvimento das organizações unitárias populares de base
local.
A descentralização de órgãos ministeriais, que tem vindo a ser
feita com critérios nem sempre convergentes, por iniciativa de
diversos ministérios, passará a ser coordenada, à luz da estratégia
de descentralização referida, cabendo, naturalmente, ao Ministério
da Administração Interna a competência na condução das ações
legislativas ou outras necessárias à respetiva
institucionalização.
II - TAREFAS ECONÓMICAS FUNDAMENTAIS DA TRANSIÇÃO PARA O
SOCIALISMO
A - A transição para o socialismo
1 - Na fase decisiva que atravessa o processo revolucionário
português, um certo número de tarefas fundamentais já referidas se
impõem:
a) superação da crise resultante do desmantelamento do poder
monopolista do grande capital, através da "batalha da
economia";
b) unificação progressiva da vanguarda política da revolução e
do seu suporte social;
c) desenvolvimento da consciência social do processo em curso,
pela revolução cultural e utilização correta e responsável dos
meios de comunicação social;
d) descentralização político-administrativa em articulação com a
orgânica de planeamento;
e) estruturação progressiva dos órgãos unitários de base em
ligação com o M.F.A.;
f) criação de condições para uma economia planificada,
controlada pelos trabalhadores e orientada eficazmente na transição
para o socialismo;
g) adoção de ações consequentes na política externa em
obediência ao princípio da independência nacional e criando
esquemas viáveis de cooperação que assegurem os apoios externos
indispensáveis à construção do socialismo em Portugal.
Dada a urgência da adoção de medidas que permitam superar a
grave crise económica que o Pais atravessa, este programa
desenvolve particularmente as atuações de caráter económico e
social.
2 - O Programa de Ação Política (P.A.P.) elaborado pelo Conselho
da Revolução, considerou indispensável adotar no campo económico,
medidas imediatas pontuais e definir não só uma estratégia de
desenvolvimento a médio prazo mas também certos aspetos
qualitativos referentes à futura configuração do sistema
político-económico.
B - Batalha da Economia
A Batalha da Economia como tarefa fundamental da transição para
o socialismo impõe:
a) A definição de uma Estratégia de Desenvolvimento que mobilize
eficazmente os recursos nacionais para a satisfação das principais
necessidades coletivas do Povo Português e ataque de modo
coordenado e planeado os atuais fatores de crise.
A definição desta estratégia fornecerá:
1) o quadro geral da política económica a curto prazo no âmbito
da qual se tomarão medidas imediatas de apoio à produção nacional e
ao emprego;
2) a opção global que orientará a preparação e execução do Plano
Económico de Transição.
b) A adoção imediata de uma Política de Austeridade que
possibilite a eficácia da Estratégia de Desenvolvimento e da
política económica a curto prazo.
c) A clarificação de aspetos qualitativos do sistema económico
de transição (Configuração do Sistema Económico) nomeadamente:
1) socialização dos meios de produção (ultimação da fase (??) de
nacionalização sistemática);
2) imediata delimitação do setor privado e esquemas de apoio, e,
dentro deste, a ação do movimento cooperativo;
3) controlo organizado da produção pelos trabalhadores;
4) mobilização local para o desenvolvimento;
5) código do investimento estrangeiro.
C - Estratégia de desenvolvimento
1 - A estratégia de desenvolvimento considerará três questões
prioritárias;
- emprego;
- equilíbrio externa;
- salvaguarda da independência nacional:
A concretização e quantificação dessa estratégia prosseguirá o
objetivo fundamental de:
manter o desemprego a taxa decrescente e socialmente tolerável,
a caminho de pleno emprego dos recursos humanos nacionais e
impedindo que o desequilíbrio externo atinja proporções e condições
tais que seja sacrificado o objetivo da independência nacional.
2 - 0 objetivo anterior implica prosseguir uma estratégia de
desenvolvimento, determinando mudanças progressivas nos padrões de
consumo e no modo de vida da população portuguesa.
A agricultura deverá ocupar um lugar chave nessa estratégia, o
que terá como consequência um caminho de transição para o
socialismo em grande parte baseado no mundo agrário, visando a sua
aproximação do mundo industrial e urbano, no domínio
sócio-económico e cultural.
3 - Importa também dar primazia à pesquisa e aproveitamento dos
recursos naturais do País, ainda largamente inexplorados. Entre
eles contam-se a água, os minérios e os recursos do mar. Para esse
aproveitamento deverão orientar-se prioritariamente alguns grandes
projetos de investimento. Em particular o de Alqueva permitirá
triplicar a área atualmente irrigada do País e o aproveitamento das
minas de Aljustrel valorizar integralmente dois milhões de
toneladas de pirites, por ano.
4 - A estratégia de desenvolvimento tem de relacionar-se
claramente com a política de cooperação económica externa. Esta
deverá garantir, no plano económico:
a) indispensável diversificação das relações comerciais com o
exterior mediante negociações com países socialistas e do Terceiro
Mundo, procurando manter-se as exportações tradicionais, agrícolas
e industriais.
b) absorção de capacidades produtivas excedentárias das grandes
unidades de capital intensivo;
c) cooperação técnica e económica no desenvolvimento da
agricultura e dos recursos naturais e na introdução de técnicas
modernas de mão de obra intensiva;
d) investimentos externos, em condições comportáveis com o
projeto de independência nacional numa via de transição para o
socialismo.
D - Apoio à produção nacional e ao emprego
1 - A estratégia descrita em termos gerais, que enquadrará o
Plano Económico de Transição, cuja preparação se fará segundo o
calendário já aprovado em Conselho de Ministros, implica a adoção
duma política económica visando a expansão da produção nacional e
do emprego produtivo. Referem-se as medidas que presentemente se
consideram mais significativas nessa política, para serem adotadas
de imediato:
- Início da realização dos programas integrados de Alqueva e do
aproveitamento das pirites de Aljustrel e criação das
correspondentes estruturas de coordenação e execução com vista à
sua rápida implementação;
- Aceleramento das obras de abastecimento de águas à região da
grande Lisboa.
- Decisão sobre outros grandes projetos integrados de
investimento designadamente Cova da Beira e Bacia do Mondego.
- Conclusão da reavaliação do Projeto de Sines;
- Fixação de preços de garantia das principais produções
agrícolas e pecuárias, nomeadamente visando aumentar os rendimentos
de pequenos e médios produtores;
- Redução dos preços dos adubos;
- Garantia de escoamento das principais produções agrícolas e
pecuárias;
- Construção do açude de Coimbra e drenagens da Zona Baixa da
Cidade;
- Acelerar a execução das medidas previstas no Programa de
Desenvolvimento das Pescas;
- Criação de estruturas eficazes de Apoio, Coordenação e
Reestruturação para Setores em Crise, dotados de autonomia;
- Continuação da inventariação e início da execução de pequenas
e médias obras de hidráulica agrícola nomeadamente no distrito de
Faro;
- Hospital Distrital de Viana do Castelo:
- Escola de Enfermagem em Coimbra;
- Aplicação de ações imediatas e coordenadas de política
comercial externa em relação aos setores mais afetados pela quebra
de exportação, quer em relação aos países socialistas quer do
Terceiro Mundo, integrando medidas diretas de apoio à exportação,
nomeadamente nos seguintes setores:
- têxtil
- concentrado de tomate
- conservas de peixe
- vinhos e outras bebidas alcoólicas
- vinho do Porto
- madeira e produtos derivados
- cortiça
- confeções
- materiais para a construção civil
- cristalaria
- Extensão aos países do Leste dos órgãos de apoio ao Comércio
Externo e Turismo, (delegações de F. F. E. em conexão articulada
com a Secretaria de Estado do Turismo, e o Ministério dos Negócios
Estrangeiros);
- Realização de acordos comerciais ou de operações concretas no
campo da cooperação económica e relativamente a setores em crise,
com os países socialistas e do Terceiro Mundo;
- Realização do Programa de Emergência para o Turismo
Nacional;
- Concretização a curto prazo da reorganização dos setores
bancário e segurador, a qual assenta no chamado "Programa Geral de
Ação" que envolve, entre outras, as seguintes medidas:
- Revisão da Lei Orgânica do Banco de Portugal, de forma a
ajustá-lo à sua nova qualidade de banco central no domínio da
coordenação, orientação e fiscalização do sistema de crédito, a par
da sua função emissora;
- Criação de órgãos de coordenação, a nível nacional e regional,
expressos no Conselho Coordenador da Política de Crédito, Conselho
das Instituições de Crédito, Secretariados e Conselhos Regionais,
que a nível nacional e regional vão permitir, através do Banco de
Portugal, a conjugação da atividade das instituições de crédito com
a das entidades incumbidas no planeamento nacional e regional do
País;
- Realização da primeira redução do elevado número de bancos
existente, eliminando, por integração noutros bancos, os que
apresentem certas anomalias ou sintomas negativos no seu
funcionamento e procurando um melhor rendimento no seu
conjunto;
- Estudo da cobertura bancária do Pais, de forma a racionalizar
a distribuição geográfica dos bancos, contrapondo à ideia da
maximização dos lucros a otimização da rendibilidade social do
setor;
- Garantia aos pequenos e médios empresários da definição de
regras de fixação de custos e margens de lucro na formação dos
preços;
- Aceleração da finalização e adjudicação dos projetos de
investimento dos atuais organismos de coordenação económica, no
sentido de melhorar e aumentar a sua capacidade de intervenção,
contribuindo paralelamente para a resolução do problema do emprego.
Até final do ano, deverão ser postos a concurso e adjudicados, os
seguintes projetos: Mercados Abastecedores do Porto e do Funchal,
armazém de batata de semente de Montalegre, silos de Alcains,
Portalegre, Pavia, Horta, Angra do Heroísmo e Ponta Delgada,
Central Leiteira e Matadouro de Beja, melhoramentos nos Matadouros
de Seixal, Leiria, Lisboa, Coimbra, Almada, Estremoz, etc. e,
finalmente, alargamento da capacidade de armazenamento de vinhos e
aguardentes da Junta Nacional dos Vinhos;
- Contribuição para a melhoria dos apoios técnicos e financeiros
a pequenos e médios comerciantes, visando nomeadamente o
associativismo;
- Racionalização dos circuitos de comercialização dos principais
bens de consumo essenciais;
- Prosseguimento, no quadro do Programa Nacional de Emprego, do
financiamento dos programas de obras não previstos em planos nas
regiões mais afetadas pelos problemas de emprego, tendo em
consideração as necessidades mais urgentes das populações;
- Prosseguimento das ações de descentralização e apoio integrado
a regiões na sequência das que o Governo já adotou, envolvendo a
criação imediata das juntes de Administração e Desenvolvimento
Regional do Algarve, Açores, Madeira, Norte, Centro e Sul;
- Definição da orgânica nacional de planeamento, nomeadamente
criando os Departamentos Regionais de Planeamento do Norte, Centro,
Sul, Algarve, Madeira e Açores, e constituição, para já das
seguintes Comissões de Planeamento:
- de financiamento;
- de comércio externo;
- de ciência e tecnologia;
- de consumo e nível de vida;
- de rendimentos e redistribuição;
- de demografia e recursos humanos;
- Redução drástica de toda a burocracia ainda existente no
processo de concurso e adjudicação de empreendimentos públicos, no
sentido de assegurar a plena execução dos investimentos públicos
programados de modo a atingir os objetivos prosseguidos pelo
Programa Nacional de Emprego;
- Clarificação do papel da iniciativa privada nos diversos
setores da atividade económica, com definição de um conjunto de
ações de apoio a pequenos e médios empresários e agricultores;
- Criação do Instituto do Investimento Estrangeiro, na sequência
da publicação do Código de Investimento Estrangeiro;
- Aprovação do Estatuto do Instituto das Participações do Estado
e divulgação do seu programa de atividades, envolvendo a publicação
do Estatuto do Gestor Público a das Bases Gerais das Empresas
Públicas;
- Campanha de poupança de bens importados e de orientação dos
consumos para a produção nacional, nomeadamente:
- Centralização progressiva das compras do setor público e sua
canalização para a produção nacional;
- Campanha de poupança na utilização de bens de importação, quer
nas unidades produtivas quer nos consumidores;
- Campanhas a nível nacional de orientação para novos padrões de
consumo.
- Fomento e mobilização da poupança, nomeadamente através
de:
- Desbloqueamento do entesouramento e sua canalização
prioritária para a habitação;
- Criação de novas formas de títulos do Tesouro, nomeadamente
consignados a fins específicos;
- Clarificação da situação das economias dos pequenos
investidores aplicadas em empresas nacionalizadas ou
empreendimentos sob tutela ou controlo do Estado;
- Intensificação das campanhas de mobilização da poupança junto
dos emigrantes, nomeadamente para projetos de desenvolvimento
regional;
E - Política de austeridade
1 - Torna-se necessário definir e executar uma política de
austeridade imediatamente pelas seguintes razões:
a) Limitação do agravamento tendencial de desequilíbrio da
balança de pagamentos, cuja continuação acentuará o grau de
dependência da economia portuguesa de tal modo que poderá tornar
impossível a construção da sociedade socialista;
b) Eliminação progressiva de padrões de consumo típicos das
sociedades burguesas desadaptados às possibilidades materiais da
economia portuguesa;
c) Necessidade de desviar para o investimento recursos
monetários em excesso que estão a exercer forte pressão sobre a
oferta através de uma expansão acelerada do consumo.
As medidas de austeridade atingirão prioritariamente as camadas
mais favorecidas da população e deverão ter um conteúdo
marcadamente popular, para o que conta nomeadamente com o apoio dos
trabalhadores através dos sindicatos e das suas organizações
unitárias de base.
É necessário que os aumentos reais de rendimentos se orientem
prioritariamente para as camadas mais desfavorecidas das classes
trabalhadoras.
2 - As medidas de austeridade incidirão particularmente nos
seguintes domínios, destacando-se como medidas mais
significativas:
A) Política de rendimentos
1) Salários
a) Na fixação das condições de trabalho a considerar dentro da
austeridade que o momento aconselha, deverá ter-se em atenção;
- as possibilidades reais das empresas, dos setores e da
economia portuguesa;
- a incidência do agravamento do custo de vida;
- as distorções salariais mais gritantes.
b) Redução do salário máximo nacional; regulamentação das
acumulações; uniformização e redução dos vencimentos das comissões
administrativas nomeadas pelo Governo para as empresas ou outras
entidades onde o Estado tenha intervido sob qualquer forma;
2) Outros rendimentos
a) Fixação de um limite máximo à distribuição de lucros e à
remuneração dos suprimentos;
b) Acentuado agravamento da progressividade do imposto
complementar para 1976;
c) Alteração do regime tributário do imposto sobre sucessões e
doações.
B) Restrição ao consumo de bens não essenciais
1) Elevação das taxas e alteração das listas do imposto de
transações com forte incidência nos bens não essenciais;
2) Limitação das vendas a prestações;
3) Introdução de novas restrições seletivas à importação,
designadamente à importação de bens menos essenciais;
4) Tributação especial agravada sobre iates, embarcações de
luxo, residências sumptuárias e outras manifestações de
ostentação.
C) Poupança de energia
1) Limitação horária para iluminações e sessões de determinados
espetáculos;
2) Generalização de medidas tendentes a limitar a circulação de
veículos nos centros urbanos, facilitando a circulação de
transportes coletivos;
3) Elevação dos preços da gasolina e do fuelóleo;
4) Esquema de apoio aos consumidores industriais.
D) Austeridade na função pública e nas empresas públicas e
nacionalizadas
1) Redução de todas as despesas de representação e das
deslocações ao estrangeiro;
2) redução dos vencimento dos membros do Governo; limitação
progressiva das acumulações;
3) austeridade no uso de viaturas públicas.
E) Medidas "moralizadoras"
1) Direito de requisição de palácios e grandes edifícios
desaproveitados, para fins sociais;
2) Direito de requisição de aviões particulares de uso pessoal
para afetação ao prosseguimento de fins sociais;
3) redução das rendas de habitação especulativas em termos a
estudar pelas Comissões de Moradores, Autarquias Locais e
Secretaria de Estado da Habitação e Urbanismo, salvaguardando-se os
direitos dos pequenos proprietários.
F - Aspetos qualitativos do sistema económico de
transição
1 - O novo sistema económico que se pretende construir no País
pode, sinteticamente, definir-se como aquele onde a lei do lucro e
da acumulação dá lugar às necessidades a da gestão democrática.
Isto é, um sistema onde a política económica está ao serviço do
povo e não de um pequeno grupo de privilegiados. Onde a satisfação
das necessidades dos trabalhadores e a democratização da vida
económica são objetivos fundamentais daquela política.
Identificam-se como setores passíveis de intervenção por parte
do Estado, na generalidade:
a) setores de que depende a satisfação de necessidades coletivas
de forma a assegurar a cobertura de um determinado nível mínimo que
importa definir, nomeadamente:
1) produção e comercialização de bens alimentares
essenciais;
2) construção de habitação social a limitação da propriedade
urbana segundo esquema a determinar;
3) saúde;
4) educação.
b) setores fundamentais da economia, entendidos como os que
situam o processo produtivo em posição tal que o seu controlo
implica controlo simultâneo de outros ou que por si só representam
fração multo importante do conjunto da economia e como tal são
determinantes para o ritmo de desenvolvimento económico,
nomeadamente:
1) latifúndios;
2) recursos naturais e minerais básicos e seu
aproveitamento;
3) setores industriais básicos;
4) grandes empresas de construção civil;
5) grandes operadores de transportes e comunicações e principais
operadores da distribuição e comercialização.
c) setores onde se verificam marcadas posições oligopolistas ou
mesmo monopolistas e principais grupos económicos (no que deles
houver de interesse económico e social).
d) setores dos quais depende, notavelmente, o fluxo de divisas
ou que apresentam grave risco de dependência do exterior, com vista
a garantir uma verdadeira independência nacional.
2 - As formas de intervenção do Estado nestes setores serão
definidas explicitamente e partir das propostas formuladas pelos
respetivos departamentos ministeriais, envolvendo:
a) nacionalização imediata;
b) participação maioritária na capital em todas ou algumas das
empresas do setor;
c) obrigatoriedade de apresentação e controlo de execução de
planos de atividade;
d) intervenção ao abrigo do D.L. nº 660/74 ou legislação
complementar.
Conforme as formas de intervenção adotadas para cada um dos
setores apontados, sempre que não se verifique a nacionalização
integral do setor, será explicitada no instrumento da intervenção
do Estado a extensão desta.
As empresas onde foram realizadas intervenções ao abrigo do D.L.
nº 660/74, ou legislação complementar, deverão ver a sua situação
resolvida no prazo máximo de 90 dias.
3 - Esta fase (que no mínimo se prolongará até final do Plano
Económico de Transição) de socialização dos meios de produção de
modo sistemático, será agora concluída com as seguintes ações:
a) Conclusão da apropriação coletiva dos meios de produção de
interesse nacional pertencentes aos grupos económicos ainda não
controlados;
b) Prosseguimento e concretização das medidas de reforma agrária
já aprovadas;
c) Nacionalização das empresas com interesse nacional que
exploram recursos minerais;
d) Conclusão da nacionalização dos setores industriais
básicos;
e) Constituição de empresas públicas de construção civil;
f) Reforma urbana, englobando a municipalização progressiva dos
solos urbanos, a regulamentação das rendas de habitação e a
limitação da grande propriedade urbana, conforme se desenvolverá
adiante;
g) Criação de empresas públicas de abastecimento dos produtos
alimentares essenciais;
h) Criação imediata de empresas públicas de comércio externo por
setores prioritários, nomeadamente para os setores em crise mais
dependentes da exportação;
i) Nacionalização das grandes instituições particulares de saúde
e sua integração no futuro Serviço Nacional de Saúde, cuja
implementação terá de ser intensificada;
j) Criação tal operador nacional de turismo e da Empresa
Nacional de Turismo (ENATUR).
4 - A segunda questão que se põe, decorre naturalmente da
primeira: delimitação de apoio ao setor privado.
O setor privado terá o seu campo de atuação clarificado através
de duas vias:
a) Delimitação de setores onde a iniciativa privada poderá
existir e desenvolver-se (e cuja definição decorrerá, quer por
exclusão em relação à intervenção estatal, quer por submissão à
estratégia de desenvolvimento); definição de limites à dimensão das
empresas; articulação com o Plano Económico de Transição; forma de
controlo da produção pelos trabalhadores. Da delimitação do setor
privado deverá resultar uma articulação clara com os órgãos de
planeamento a nível nacional e sectorial de modo a que não se
possam desenvolver grupos ou empresas monopolistas e que se
favoreça a ligação, designadamente no plano contratual, destas
empresas privadas com o setor público e nacionalizado;
b) Garantias e apoios que o Estado concederá aos pequenos e
médios empresários, nomeadamente quanto a crédito, assistência
técnica, garantia de acesso a matérias-primas e a mercados, regras
de fixação de custos, preços e margens de lucro.
A curto prazo aponta-se nomeadamente:
- O reforço e alargamento das ações de apoio direto ao pequeno e
médio agricultor, envolvendo: a) a definição de uma política
coerente de preços agrícolas diferenciados, nomeadamente para
azeite, cereais, leite, produtos pecuários e vinhos; b)
Intensificação das intervenções de apoio à comercialização de
produtos agrícolas e pecuários com vista ao seu escoamento; c) a
definição de uma política geral de apoio técnico e financeiro;
- O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empreses Industriais
alargará a sua atividade a todo o País e terá reforçados os seus
meios de atuação, em particular para as empresas dos setores em
crise;
- Na distribuição e no comércio retalhista, serão melhorados os
apoios técnicos e financeiros visando nomeadamente formas de
cooperação e associativismo entre pequenos e médios
comerciantes.
5 - Na área da economia reservada à iniciativa privada há,
todavia, que situar o papel do movimento cooperativo.
O cooperativismo não poderá ser encarado como um sistema
sócio-económico independente, mas sim como uma forma extremamente
importante de organização, a integrar nos planos mais gerais de
desenvolvimento, quer a nível nacional, quer sectorial e
regional.
É natural, porém, que persista uma faixa de independência no
seio do movimento cooperativo a qual poderá sempre redundar em
benefício do equilíbrio do sistema, sobretudo no atual contexto
revolucionário em que a irreversibilidade do processo tem de
acentuar numa consciência de base de poder popular, principalmente
nas faixas da economia de possível tratamento cooperativo.
Serão assim definidas a curto prazo:
a) As faixas da economia melhor suscetíveis de tratamento
cooperativo;
b) As características estruturais básicas de cada ramo do
cooperativismo correspondente a essas faixas;
c) A articulação das cooperativas com o planeamento económico
global, sectorial e regional;
d) As formas concretas de apoio ao cooperativismo, e as suas
prioridades em tempo.
6 - A terceira questão que se põe é o controlo organizado da
produção pelos trabalhadores.
De imediato será reconhecido o direito ao controlo organizado da
produção pelos trabalhadores em todos os ramos de atividade da
economia nacional. O controlo organizado da produção implica por
parte da classe trabalhadora o empenhamento eficaz no processo
produtivo por forma a garantir o aproveitamento máximo dos recursos
nacionais.
O exercício de tal direito não poderá, como é evidente,
prejudicar a gestão das empresas.
Serão criadas estruturas autónomas para o exercício de tal
direito, em ligação com as comissões de trabalhadores e
organizações sindicais.
Considera-se recomendável a constituição de tais estruturas em
empresas com um número do trabalhares ou volume médio de vendas
superiores a limites a fixar, nas empresas nacionalizadas,
públicas, participadas ou em que o Estado tenha intervido ao abrigo
do Decreto-Lei nº 660/74 e legislação complementar e em todas as
empresas em que foram detetados atos de sabotagem económica. Serão
igualmente reconhecidos órgãos sectoriais, regionais ou nacionais
de controlo da produção que os trabalhadores venham a criar e
regulamentada a sua articulação com os órgãos nacionais, regionais
e sectoriais de planeamento e coordenação.
Deverá ser dada prioridade à criação daqueles órgãos nos setores
nacionalizados e em crise.
Entre as funções que serão conferidas às estruturas de controlo
da produção destaca-se;
a) Apreciar, emitir parecer e garantir a execução, pelos meios
ao seu alcance, dos planos gerais da empresa, em particular da
produção e investimentos;
b) Fomentar e garantir, na medida do possível, a utilização pela
empresa de recursos técnicos, humanos e financeiros nacionais, no
sentido da construção de uma economia socialista orientada para a
satisfação das necessidades da coletividade;
c) Contribuir para a melhoria qualitativa e quantitativa da
produção, designadamente nos campos da racionalização do sistema
produtivo, formação e aperfeiçoamento profissional, simplificação
administrativa a aumento da produtividade;
d) Velar pelo cumprimento dos programas do Governo para o setor
ou empresa e pelo cumprimento das normas legais e
regulamentares;
e) Garantir, ao nível do setor ou da empresa, o cumprimento
rigoroso de medidas de austeridade económica que o Governo adote,
designadamente em matéria de poupanças de recursos importados de
energia e eliminação de formas de desperdício;
f) Detetar e combater atividades sabotadoras da economia
nacional ou da empresa, não só no campo da produção, como no campo
financeiro ou fiscal.
7 - A quarta questão refere-se à mobilização local para o
desenvolvimento:
a) O processo revolucionário português entrou numa fase em que,
mantendo-se embora, no essencial, as relações sociais e a instância
ideológica características do sistema capitalista as motivações
para o funcionamento do aparelho produtivo desapareceram. Há, pois,
que proceder a uma completa reestruturação, não só da nossa
economia, mas de todo o sistema de relações sociais;
b) Na base do novo sistema para que se caminha progressivamente
estará uma economia planificada que lhe dará os contornos e as
"medidas" necessárias a uma visão global;
c) Se o avanço do processo revolucionário exige e pressupõe que
se caminhe para uma economia planificada, o certo é que a
elaboração e principalmente a execução de um plano, só serão
eficazes se as populações participarem ativamente neste processo
desde o seu início. E como o que está em causa não é somente um
"problema económico", mas sobretudo um "problema político-social",
mais se justifica ainda a procura de formas de mobilização dos
trabalhadores e da população em geral nas tarefas do
desenvolvimento do processo em curso;
d) Torna-se necessário articular a participação das populações
no âmbito de edificação de uma economia socialista com o projeto
mais amplo de mobilização popular para a construção de um novo
poder local, regional a nacional, projeto esse cujos princípios
gerais já foram aprovados na Assembleia do Movimento das Forças
Amadas, e de que já começam a ser lançadas as bases
embrionariamente;
e) Na mobilização que é necessário assegurar para levar à
prática um plano que se pretende marque o início sistematizado das
profundas transformações políticas e económicas operadas e a operar
na nossa sociedade, torna-se indispensável equacionar diversos
problemas;
f) No que diz respeito à mobilização das populações, ela só
poderá ser profícua se for orientada no empenhamento em torno de
objetivos mais vastos que os do planeamento. Isto é, as populações
serão mais fácil e profundamente motivadas se a sua participação
for feita em termos de construção de um novo poder, que elas sintam
que está ao seu serviço e que é por si controlado;
g) Se e mobilização tem que ser vista em termos de construção de
um novo poder local, em cuja definição e exercício haja uma
participação real das populações, importa encontrar os órgãos
adequados que possam, por um lado, garantir a construção do novo
poder e, por outro, reunam as condições essenciais para a
prossecução de objetivos em termos de desenvolvimento planeado.
Estas condições são, entre outras:
1) capacidade técnica e administrativa;
2) conhecimento real dos problemas locais e regionais:
3) garantia de coerência das decisões no quadro geral do
planeamento.
h) Na fase de transição em que nos encontramos é fundamental
ligar as tarefas do desenvolvimento económico-social, aos esforços
que estão a ser feitos pelo M.F.A. e por forças políticas
progressistas no sentido de desenvolver uma fórmula de ligação da
estrutura militar às organizações populares unitárias de base.
Assim, e na medida do desenvolvimento dos órgãos populares em que
ressalta uma representação tripartida (comissões de trabalhadores,
comissões de moradores e delegados de unidades militares), com um
certo tipo de relação com (a) estrutura tradicional de aparelho de
Estado (juntas de freguesia, câmaras municipais e governos civis)
deverão ser estes órgãos suportes locais do desenvolvimento
económico-social. Propõe-se assim que a mobilização local para o
desenvolvimento assente na atuação conjugada de:
1) Departamentos regionais de planeamento (prolongamentos do
D.C.P.);
2) Órgãos executivos das novas estruturas a criar no âmbito do
aprofundamento da "ligação Povo-M.F.A.";
3) Órgãos/Comissões regionais que entretanto têm estado a ser
constituídas para fazer face a fins específicos (emprego, reforma
agrária, habitação, etc.).
8 - A quinta e última questão que se coloca de imediato quanto
aos aspetos qualitativos do sistema económico de transição reside
no papel de investimento estrangeiro.
Neste sentido é promulgado imediatamente o Código do
Investimento Estrangeiro e criado no âmbito do Ministério do
Planeamento e Coordenação Económica o Instituto do Investimento
Estrangeiro que terá a seu cargo e aplicação deste código, no qual
se regulamenta o investimento estrangeiro em termos compatíveis com
a independência nacional.
III - POLITICA SOCIAL
A - Saúde
1) O Estado é responsável pela satisfação das necessidades da
saúde das populações.
a) Integração dos serviços médicos da Previdência num sistema
unificado de cuidados do Serviço Nacional de Saúde.
b) Definição de um estatuto homogéneo, unificado a nível
nacional, para todos os trabalhadores do Serviço Nacional de
Saúde.
2) Acesso de toda à população ao Serviço Nacional de Saúde em
igualdade de condições.
a) Extensão dos benefícios do Serviço Nacional de Saúde a toda a
população portuguesa que ainda não se encontre abrangida por
qualquer esquema assistencial, incluindo-se neste número os
retornados das ex-colónias;
b) Oficialização dos hospitais concelhios ainda dependentes das
misericórdias;
c) Aumento do número de médicos policlínicos, no seu ano de
serviço a periferia da modo a obter uma ampla cobertura nos
pequenos concelhos do continente, Açores e Madeira, impossível de
conseguir no passado;
d) Implantação progressiva dos centros comunitários da saúde,
trave mestra do Serviço Nacional de Saúde.
3) Integração das funções de promoção da saúde, prevenção,
tratamento e reabilitação do Serviço Nacional de Saúde, com primado
para a prevenção.
a) Integração dos cuidados preventivos, de diagnóstico, de
terapêutica e de reabilitação, com a sua consequente implantação no
meio social e laboral;
b) Intensificação das ações na assistência materno-infantil,
medicina escolar, medicina desportiva, medicina no trabalho,
educação sanitária, nos cuidados aos convalescentes e à terceira
idade e à readaptação.
4) Participação ativa da comunidade nas atividades do Serviço
Nacional de Saúde.
a) Criação das Administrações Distritais dos Serviços de Saúde,
que vão permitir, a nível distrital, uma autonomia administrativa e
de gestão e fazer a integração das múltiplas entidades prestadoras
de cuidados de saúde, num sentido integrador, descentralizador e
desburocratizante das administrações que ponha a política de saúde
ao serviço das populações.
Para o êxito desta política considera-se fundamental a
intervenção das organizações populares de massa (sindicatos, ligas,
comissões de moradores e de trabalhadores, organizações de
mulheres);
b) Regulamento e dinamização das Comissões Integradoras dos
Serviços de Saúde Locais (C. I. S. S. L.) por forma a assegurar uma
efetiva participação das populações na concretização de uma
política democrática de saúde.
5) Infraestruturas e recursos humanos.
a) Reformulação dos cursos e carreiras dos técnicos dos meios
auxiliares de diagnóstico e terapêutica;
b) Garantia de pleno emprego para todos os trabalhadores da
saúde, incluindo todos os retornados nacionais e pessoal a
trabalhar em instituições particulares que deseje ingressar nos
estabelecimentos oficiais e que para tal tenham as devidas
habilitações;
c) Elaboração de um novo estatuto hospitalar com base na
experiência de gestão democrática que se está vivendo nos nossos
hospitais;
d) Revisão e unificação a nível nacional das carreiras dos
profissionais da saúde;
e) Elevação do nível da qualidade dos hospitais distritais para
o que serão abertos em breve os concursos para provimento dos seus
quadros. Promover-se-á a extensão progressiva dos internatos de
policlínica e de especialidades a estes hospitais;
f) Beneficiação, reconversão, ampliação e criação de novos
hospitais no continente e ilhas adjacentes, segundo um programa que
no período do Plano Económico de Transição (1976-78) ascenderá a
4,6 milhões de contos, contribuindo assim de igual modo para o
aproveitamento de mão de obra disponível no campo da construção
civil;
g) Atuação na indústria farmacêutica e comercialização dos
medicamentos, visando nomeadamente desenvolver a indústria nacional
e reduzir a exageradíssima gama de produtos à venda e eventualmente
os seus custos.
B - Segurança social
1) Orientação básica corresponde a integrar progressivamente a
previdência (à exceção da parte de saúde) e à assistência, num
sistema de segurança social.
1. Eliminação do atual prazo de garantia (6 meses) para a
atribuição das prestações pecuniárias e em especial dos benefícios
imediatos;
2. Elevação de pensão mínima de invalidez e velhice do regime
geral da Previdência de 1650$00 para 2000$00, elevação da pensão
mínima de sobrevivência, e preparação da melhoria das pensões do
regime espacial dos rurais;
3. Preparação da revisão de esquema de benefícios de certos
setores, ainda parcialmente abrangidos (por exemplo: empregadas
domésticas, vendedoras ambulantes, engraxadores, etc.);
4. Revisão dos valores das pensões por doenças profissionais
asseguradas pela Caixa de Doenças Profissionais, estreita ligação
com as pensões asseguradas pelas companhias de seguros, prevendo
medidas tendentes à sua articulação com as pensões da Previdência
na perspetiva de um sistema integrado de Segurança Social;
5. Concessão de próteses e outros aparelhos complementares
terapêuticos aos utentes do regime especial dos rurais nos mesmos
moldes do regime geral;
6. Integração dos indivíduos inválidos e idosos não abrangidos
por qualquer sistema de previdência no âmbito de proteção da ação
médico-social;
7. Concessão, pela Previdência, de moratórias a pequenas e
médias empresas em estreita colaboração com o I.A.P.M.E.I.
(Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas Industriais) e a
banca tendentes a recuperar contribuições em atraso e a criar as
condições favoráveis à sua recuperação económico-financeira.
Publicação de legislação revolucionária que conduza ao pronto
pagamento das contribuições à Previdência impedindo o
aproveitamento dos dinheiros dos trabalhadores para fins
ilícitos.
2) Proteção à infância e à mulher trabalhadora.
a) Alargamento para 90 dias de licença do parto para a mulher
trabalhadora;
b) Apoio às iniciativas de criação de infantários, avaliação e
transformação (quando necessário) dos existentes, e elaboração de
um plano diretor para cobertura mínima do País, atendendo a:
1) zonas rurais, nomeadamente as cooperativas agrícolas;
2) zonas industriais de grande concentração de mulheres
operárias;
3) zonas suburbanas onde seja maior a pressão das diversas
carências (habitacional, sanitária, etc.);
c) Quanto ao enquadramento social das crianças e jovens
iniciar-se-á, com experiências-piloto, a modificação da situação
dos internatos de órfãos ou crianças e jovens vindos de famílias
carecidas, garantindo a escolaridade em estabelecimentos normais, e
aprendizagem em locais de trabalho e o ambiente familiar em
unidades de dimensão humana;
d) Quanto à 3ª idade, lançamento de ações tendentes a renovar o
enquadramento social de idosos e inválidos designadamente quanto a
equipamento para idosos acamados em grandes centros urbanos,
remodelação dos albergues distritais de mendicidade, fomento de
centros de diagnóstico e serviços domiciliários e criação de lares
e revisão quanto aos existentes;
e) Criação das condições para atribuição de assistência médica e
medicamentosa gratuita à população de 65 e mais anos em situações
económicas mais desfavorecidas, e estabelecimento de acordos de
cooperação do setor da saúde com estabelecimentos para idosos
inválidos;
f) Articulação com os setores de habitação, transportes,
trabalho e tempos livres com vista à concessão de regalias
especiais e adequadas aos idosos.
C - Educação e investigação científica
1) Ensino básico
a) Ensino Pré-Escolar
Foi nomeada uma comissão interministerial (M.E.C./M.A.S.)para
estudo de um plano global coerente com vista à expansão da educação
pré-escolar.
Pretende-se responder à dupla finalidade de carências da
população trabalhadora e de necessidade de formação adequada de
educadores de infância, prevendo-se a entrada em funcionamento das
instituições a criar em outubro.
b) Reciclagem de Professores do Ensino Primário
A ação de reciclagem de 35 000 professores do ensino primário
terá lugar em setembro e será feita em 2 turnos, estando a cargo de
equipas a nível concelhio.
O objetivo é a sensibilização sociopolítica e pedagógica à
função da instrução e da educação numa sociedade a caminho do
socialismo.
2) Ensino secundário
a) Lançamento do 7.° Ano de Escolaridade (1º Ano do Ensino
Secundário Unificado)
Trata-se do primeiro passo na unificação dos cursos gerais
secundários pela implantação de uma via única, aberta sem
distinção, quer aos que venham a ingressar na via ativa que
pretendem prosseguir estudos superiores. Esta via única substituir
as vias paralelas (liceal e técnica, esta por sua vez compreendendo
cursos paralelos) existentes, extremamente diferenciadas e que
impunham uma opção prematura, sendo socialmente discriminatória,
além de pedagogicamente desatualizadas, administrativamente
ineficientes e economicamente pouco rendíveis.
A unificação visa:
1. proporcionar uma preparação básica polivalente que evite as
opções prematuras;
2. a integração da escola na região;
3. a união do estudo ao trabalho produtivo e da teoria à prática
através de uma pedagogia concreta, ativa e interdisciplinar;
4. a participação dos jovens como elementos transformadores na
sociedade; e
5. a formação dos jovens interessados na resolução dos problemas
nacionais e com espírito de solidariedade internacionalista.
As implicações (a curto e a médio prazo) do lançamento do 7.°
ano de escolaridade são de natureza demográfica na rede escolar, na
formação e recrutamento de professores e nos meios de ensino.
b) Reconversão do Ensino Noturno
1) Adoção das medidas transitórias para o próximo ano
letivo:
a) alargamento da rede escolar;
b) alterações curriculares;
c) encurtamento da duração dos cursos técnicos noturnos;
d) Medidas tendentes à valorização doa conhecimentos práticos
dos trabalhadores-estudantes.
2) Lançamento de medidas de fundo:
Auscultação dos setores profissionais interessados (sindicatos,
associações de trabalhadores estudantes, organismos centrais e
locais) que em conjunto projetam a reforma do ensino noturno para
vigorar no ano letivo de 1976/77.
3) Ensino superior e investigação científica
a) Acesso ao ensino superior
Está já elaborado um projeto de decreto-lei que visa criar
condições de acesso ao ensino superior por parte dos trabalhadores
e dos jovens provenientes das classes trabalhadoras. O critério de
seleção que se define aponta claramente no sentido da correção das
desigualdades sociais, tão patentes neste domínio. Institui-se um
ano de orientação que permitirá uma saída útil para os jovens
candidatos ao ensino superior, enquanto não se criam as condições
para um conveniente planeamento dos recursos humanos e não se
lançam novas estruturas e tipos de ensino no âmbito do ensino
secundário e do ensino superior. Pretende-se que este ano de
orientação seja um ano de alto valor pedagógico para os estudantes
candidatos ao ensino superior.
b) Aproveitamento escolar
Está já elaborado um projeto de decreto-lei que visa resolver os
problemas levantados pela proliferação dos regimes de avaliação do
aproveitamento escolar, apontando para a uniformização dos
critérios de avaliação, e garantir tanto a dignidade da função
docente como a seriedade do próprio processo.
c) Carreira Académica e Carreira Docente
Está elaborado e posto à discussão nas escolas um anteprojeto de
decreto-lei sobre a carreira académica e a carreira docente. Os
objetivos que se pretendem atingir visam articular o sistema de
promoção nas carreiras académicas e docente a todo o trabalho
realizado pelos docentes universitários, estabelecer processos
rigorosos de graduação de docentes, aproveitar completamente todos
os recursos nacionais em pessoal altamente qualificado para as
tarefas do ensino superior, criar uma consciência revolucionária
entre os docentes com a instauração de um espírito de plena
dedicação a todas as tarefas integradas na missão da universidade.
Isto passa pela incentivação de docentes trabalhando em regime de
dedicação exclusiva e por uma nova definição do sistema de promoção
e valorização académica e profissional dos docentes, o que implica
que a noção tradicional de doutoramento não seja exclusiva com
acesso à carreira docente.
d) Reorganização do Ensino Médico
Existe um projeto da decreto-lei de colaboração com o M.A.S. que
visa a redistribuição racional dos médicos hoje concentrados em
hospitais centrais, contribuindo assim para progressiva cobertura
sanitária de todo o País.
Neste sentido vão ações tendentes ao desenvolvimento do
internato de policlínica nos hospitais distritais e a reformulação
do internato das especialidades, permitindo aos futuros clínicos a
diferenciação no sentido da medicina comunitária.
Consagra-se o principio de que todos os hospitais centrais
gerais têm por funções praticar assistência, educação médica a
todos os níveis e investigação cientifica.
e) Reorganização do ensino agrícola
Foi criado um grupo de trabalho de colaboração entre o M.E.I.C.
e o M.A.P., para a reorganização do ensino agrícola, que visa
formar os técnicos necessários à efetivação da Reforma Agrária.
Este grupo de trabalho definiu já os "Princípios básicos de
cooperação entre o M.A.P. e o M.E.I.C. e está presentemente a
estudar as diretrizes gerais do ensino agrário no País.
f) Criação de novos cursos para-médicos
Está em estudo a estruturação de um tronco comum de disciplinas
médicas e para-médicas, que visa formar os técnicos necessários a
uma estrutura médica, com as suas indispensáveis infraestruturas
paralelas, no domínio das profissões para-médicas. Conscientes
destas necessidades, de cuja satisfação resultará uma melhoria de
operatividade da ação médico-sanitária no Pais, formaram-se grupos
de ação pedagógica nas Faculdades de Medicina que estudaram o
problema, por forma a inovar o ensino já no próximo ano letivo.
g) Universidade de Lisboa
Vai constituir-se um grupo de trabalho para repensar a
organização da estrutura universitária de Lisboa.
h) Investigação científica e tecnológica
Está elaborado um anteprojeto de decreto-lei que cria uma
entidade que a nível nacional se ocupe dos problemas da
investigação científica e tecnológica.
i) Ação social escolar
Está a ser elaborado um estudo que visa a reestruturação dos
serviços de ação social escolar para o ensino superior.
4) Ensino não formal
a) Alfabetização
Considerando a alfabetização como uma peça fundamental de um
processo de mobilização popular total e, assim, como parte
integrante da revolução cultural, terá a alfabetização que estar
ligada aos grandes programas nacionais. Os seus objetivos serão
consciencializar, organizar, mobilizar, pretendendo ser o embrião
de um sistema de educação permanente que irá relacionando, ao longo
de execução do Programa, os centros de alfabetização com a formação
profissional e técnica.
Assim, o Programa Nacional de Alfabetização deverá ser lançado
com(o) uma das tarefas prioritárias da Revolução portuguesa.
O projeto de decreto-lei (que se junta ao Programa Nacional de
Alfabetização) visa, através da criação do Conselho Nacional de
Alfabetização, a montagem de uma estrutura a nível nacional (com
órgãos centrais e regionais - a nível de distrito e concelho), que
permita pôr em execução o Programa Nacional de Alfabetização. Para
o Conselho Nacional de Alfabetização serão transferidas a
competência e atribuições que competiam, nos domínios mencionados
no projeto de diploma, à Direção-Geral da Educação Geral
Permanente.
b) Universidade Aberta
Está em elaboração um projeto de decreto-lei que visa pôr em
funcionamento a Universidade Aberta.
D - Habitação e obras públicas
1) Política de solos
O Governo entende que a propriedade privada dos terrenos não
poderá constituir obstáculo à realização dos programas sociais de
habitação, à resolução dos problemas urbanos de interesse coletivo,
à criação ou promoção de emprego para as empresas de construção
civil, ou à execução de quaisquer projetos de interesse público de
nível nacional ou local.
Assim, serão utilizados processos simplificados de expropriação,
com base em legislação a promulgar a curto prazo, bem como um fundo
de financiamento às autarquias e entidades expropriantes que será
utilizado através de circuitos simplificados e
desburocratizados.
No processo de expropriação de terrenos serão utilizados
critérios que tendo como objetivo principal atender ao interesse
coletivo e sobretudo das classes menos favorecidas, procurarão
ressalvar os interesses dos pequenos e médios proprietários que
utilizam o solo como suporte do seu trabalho agrícola, comercial ou
industrial, ou de habitação permanente.
A estes proprietários só serão expropriados os terrenos
verificada a impossibilidade de resolverem os programas de
interesse público por outra forma, e receberão as indemnizações de
uma só vez e por inteiro, podendo ser pagas em dinheiro ou em
terrenos de valor equivalente.
Nas zonas urbanas de grandes carências habitacionais, de
deficientes condições de vida urbana ou de maior crise de emprego,
serão imediatamente expropriados os terrenos bem localizados que
disponham já de infraestruturas e que não estejam a ser utilizados
para construção.
A disponibilidade de solos por parte do Estado, é condição
indispensável à anulação das características monopolistas de
promoção imobiliária nas zonas urbanas e à substituição dos grandes
proprietários de solos e das grandes empresas privadas na condução
dos processos urbanos.
Neste sentido, o Governo passará a elaborar, com os órgãos de
planeamento regional e local, um Programa Nacional de Expropriação
de solos urbanos que será apoiado por um plano de financiamento
anual e que terá por objetivo a progressiva e efetiva
municipalização de solos.
2) Estrutura do setor
No âmbito da atividade industrial de construção civil e obras
públicas, deverá garantir-se a coexistência de um setor estatal e
de um setor privado.
As medidas preconizadas destinam-se a promover a reestruturação
e racionalização de ambos os setores, garantindo simultaneamente a
continuidade do trabalho e outros tipos de apoio às pequenas e
médias empresas do setor privado e às empresas públicas a criar. A
racionalização do setor privado, caracterizado pois existência de
milhares de pequenas empresas com limitada capacidade produtiva,
passará obrigatoriamante pelo agrupamento e associações das
empresas por forma a construírem unidades de produção de dimensão
mais conveniente.
Para pôr em execução de uma forma coordenada as diversas medidas
que se propõem para reestruturação da atividade, torna-se
absolutamente necessária a criação de um departamento que se ocupe
especificamente dos problemas da construção civil, definindo e
centralizando competência que hoje se encontram muito
dispersas.
A) Medidas relativas ao setor estatal
1) Como medida imediata, é imprescindível a concretização da
Comissão Liquidatária do passivo das empresas nacionalizadas ou com
intervenção do Estado, por forma a separar esse passivo, resultante
da anterior atividade especulativa do setor produtivo, a fim de
tornar possível a rápida ativação da produção.
2) Outras medidas imediatas relativas às empresas nacionalizadas
ou com a intervenção do Estado:
a) Coordenação da distribuição de trabalho, e de utilização da
capacidade técnica, da mão de obra, parque de máquinas, etc..
b) Coordenação dos processos e circuitos de aquisição dos
materiais de construção mais importantes.
c) Coordenação e integração do processo de comercialização dos
fogos construídos para venda.
3) A partir das medidas imediatas definidas nos números
anteriores e ainda da nacionalização das grandes empresas do setor,
da intervenção do Estado ao abrigo do Decreto-Lei 660/74 e de
situações de insolubilidade em relação à banca, serão
constituídas:
a) Empresas públicas da construção civil e obras públicas, tendo
em conta os seguintes fatores:
- Para as empresas de obres públicas: tipo de especialização dos
empresas
- Para as empresas de construção civil: localização geográfica
das empresas e necessidades a satisfazer na sua área de
atuação.
b) Empresas públicas de comercialização dos materiais de
construção mais importantes (cimento, aço, betão, etc.).
B) Medidas relativas ao setor privado
1) Simplificação radical dos processos de concurso e adjudicação
de empreitadas, integrando a participação e controlo dos organismos
representativos dos trabalhadores e reforçando as medidas
repressivas contra os crimes económicos (corrupção, fraude,
etc.).
Deverão ser tomados em linha de conta os seguintes pontos:
a) Facilidade de admissão das PME e seus agrupamentos (revisão
da política de alvarás, garantia provisório de depósitos,
etc.).
b) Desburocratização generalizada (prazos, meios de publicidade,
etc.).
c) Alargamento do âmbito dos concursos limitados.
d) Normalização de todo o processo.
2) Adequação da dimensão de certas empreitadas públicas à
capacidade de execução das PME ou seus agrupamentos ou associações,
nomeadamente no que no refere à possibilidade de parcelamento da
execução de planos estatais ou de contratos de desenvolvimento de
grande dimensão.
3) A adequação das empreitadas referidas no número anterior não
deverá dificultar, antes pelo contrário deverá favorecer, a urgente
necessidade de reestruturação do setor privado da construção
civil.
Para tal, deverá ser dado apoio à estruturação técnica e
produtiva das PME, e deverão ser promulgados incentivos (fiscais,
financeiros, de apoio em equipamento, de garantia de trabalho,
etc.) a associação ou agrupamento de pequenas empresas.
4) Os apoios e incentivos referidos atrás passarão, no entanto,
pela imposição de determinados métodos de trabalho, nomeadamente
pela imposição de um plano de contabilidade que deverá ser
elaborado pelo Estado para toda a indústria e construção civil.
3) Habitação
No setor da habitação serão adotadas medidas tendentes e
beneficiar prioritariamente as classes trabalhadoras, e em especial
as camadas mais desfavorecidas da população, canalizando para a
satisfação das necessidades mais prementes dessas classes o maior
esforço do Estado, tornando-se, paralelamente necessário adotar uma
política redistributiva dos rendimentos procedendo à expropriação
dos grandes proprietários urbanos.
O Governo concentrará os seus esforços na rápida definição dos
programas estatais e municipais de habitação, procurando acelerar a
sua execução, incentivando o controlo das organizações de
trabalhadores e de moradores sobre a execução e cumprimento desses
programas.
Será desenvolvida uma política de habitação que tende a unificar
as condições de satisfação das necessidades de todas as classes
sociais através da adoção de categoria única de habitação para os
programas de construção direta do Estado. A categoria única de
habitação unificará os níveis de áreas, tipos de acabamentos e
qualidade construtiva dos alojamentos para todas as habitações de
empreendimentos estatais ou municipais, as quais serão distribuídas
através da aplicação do regime da renda-rendimento.
Serão simultaneamente adaptadas medidas que garantam a efetiva
utilização das casas existentes não ocupadas, procedendo-se ao seu
arrendamento compulsivo.
A deteção e distribuição das casas para aluguer terá de fazer-se
duma forma organizada sob o controlo das autarquias locais e das
comissões de trabalhadores e de moradores até à constituição das
Bolsas de Habitação.
Para um melhor aproveitamento do parque habitacional existente
será criado um fundo de financiamento para recuperação de
habitações, destinado a apoiar as autarquias locais na beneficiação
e recuperação de construções destinadas à habitação cuja
necessidade social e viabilidade económica, seja comprovada.
Em relação às habitações construídas recentemente ou em
construção serão criadas condições de crédito que favoreçam a sua
aquisição para casa própria, e será aplicado, desde já o regime de
renda-rendimento às habitações construídos pelo Estado, ou pelas
autarquias locais, e englobadas no âmbito das habitações económicas
ou das habitações sociais.
Apesar do Estado tender a ser, a curto prazo, o mais importante
investidor no setor da habitação, manter-se-á o papel importante da
iniciativa privada sobretudo fora dos grandes centros urbano,
promovendo habitações para venda ou aluguer em regime livre de
marcado, ou através de construção de casa própria pelos
particulares ou por associações e cooperativas de habitação. O
Estado incentivará prioritariamente através de financiamento (e) de
apoio técnico as iniciativas que venham a satisfazer as
necessidades de habitação sem objetivos lucrativos, desde que
apoiados pelas autarquias e organizações locais de trabalhadores e
moradores.
A indústria de construção civil do setor privado terá acesso a
todos os tipos de programas de construção de habitações e de
equipamento, através dos respetivos concursos. Deste modo, ainda
que a promoção imobiliária privada fique limitada, a atuação das
empresas de construção civil será proporcionada em todos os tipos
de empreendimentos estatais e municipais.
A necessidade de uma estrutura mais eficiente, e adequada a uma
atuação descentralizada na promoção dos programas habitacionais e
de política habitacional, implica a criação, a curto prazo, de um
Banco de Habitação com capacidade de atuação regional e de
financiamento direto aos programas, e de bolsas de habitação que
garantam a execução local, sob controlo das organizações de
trabalhadores e moradores, e das autarquias locais, da política
habitacional.
4) Obras públicas
A política de execução de obras públicas será norteada por dois
objetivos fundamentais:
a) Satisfação das necessidades mais prementes das populações
mais desfavorecidas nomeadamente no que se refere ao saneamento
básico - águas e esgotos - e à construção de estradas e
eletrificação nas zonas rurais.
b) Execução dos grandes empreendimentos integrados em políticas
de desenvolvimento económico global e regional.
Serão adotadas medidas diferenciais para os grandes
empreendimentos - representando grandes volumes de investimento
e/ou repercussão a nível de largas zonas do País - e para os
pequenos empreendimentos - pequenos volumes de investimento e
repercussão focal.
Assim, o estudo e lançamento dos grandes empreendimentos estarão
dependentes dos serviços centrais, implicam o estreito contacto de
vários Ministérios com o M.E.S.A. a fim de se conseguir a
coordenação das definições políticas com a execução real dos
empreendimentos, nomeadamente no que se refere ao apoio à reforma
agrária, à política nacional de saúde e à política educacional.
Recorrer-se-á à inventariação já elaborada no âmbito do T.E.T.
para definir rapidamente quais os empreendimentos concretizáveis a
curto prazo que se enquadrem nas políticas definidas pelos
restantes Ministérios.
Para os empreendimentos já em curso torna-se necessário, em
muitas casos, o reforço das verbas previstas a fim de possibilitar
a atualização de preços do avanço das obras do ritmo desejado.
Quanto aos pequenos empreendimentos de âmbito local, como sejam
obras de abastecimento de águas, esgotos, urbanização, viação
rural, construção e reparação de habitações, etc., competirá aos
Serviços Centrais do M.E.S.A. definir as políticas gerais de
atuação e as regras práticas a utilizar para o lançamento dos
empreendimentos.
Ficará, no entanto, a cargo das autarquias locais em estreito
contacto com as organizações sindicais e populares (comissões de
moradores, comissões de trabalhadores, etc.), a definição das
prioridades de execução a adotar a nível local e a responsabilidade
do seu lançamento e concretização de acordo com as políticas e
regras estabelecidas a nível central.
Esta atuação descentralizada implica, no entanto, um claro apoio
financeiro e técnico às autarquias locais e uma forte simplificação
e desburocratização dos métodos de trabalho, nomeadamente no que se
refere aos concurso e adjudicações e a autorização do dispêndio de
verbas.
Tanto no que se refere aos grandes como aos pequenos
empreendimentos será feita larga divulgação dos seus programas de
execução, a fim de permitir às empresas da setor obter uma
perspetiva de planos de atividade e de ocupação de mão de obra e
equipamento.
(Este Programa de Governo é o único conhecido: foi publicado
pelo jornal "A Capital" em 23/8/1975)