Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos
Moedas, de 42 anos, tem uma missão bem definida no Governo liderado
por Pedro Passos Coelho: «Aqui asseguramos que a todos os níveis,
nos diferentes ministérios, o plano de reformas estruturais
definido pelo Governo, em conformidade com os memorandos da troika,
seja bem aplicado», explica num francês perfeito este engenheiro,
antigo estudante da escola de «Ponts et Chaussées» em França e que
mais tarde trabalhou no banco de investimento Goldman Sachs, na
área de fusões e aquisições.
Num quadro branco pendurado na parede do seu gabinete, vai
anotando a lista das reformas já concretizadas e as que falta
concretizar. «Mesmo sem a troika, teríamos feito estas reformas. É
o nosso programa para sair da crise», explica.
Eis a ementa: fomentar a concorrência no sector dos serviços,
reduzir as rendas na energia, nas telecomunicações e nos
medicamentos, rever a lei das falências, agilizar a contratação do
trabalho e obter cinco mil milhões de euros por intermédio das
privatizações. «Já conseguimos 3,3 mil milhões, ou seja, mais de
metade, durante o primeiro ano de governação. Criámos um interesse
inesperado pelas privatizações», congratula-se o secretário de
Estado.
Lamentará ele a tomada de posição dos capitais angolanos ou
chineses? [O grupo Três Gargantas, proprietário de uma imensa
barragem no rio Yangtsé, adquiriu 21% da EDP, superando a empresa
alemã EON]. De modo nenhum: «O Governo português não é pelo
proteccionismo», explica Moedas. «Lançámos uma oferta transparente,
pretendendo a melhor oferta financeira. Demonstrámos que Portugal é
um país sério e sem preconceitos».
Esta estratégia foi recompensadora: 2,7 mil milhões de euros
pela parcela da EDP vendida pelo Estado, cerca de 20% a 30% mais do
que as ofertas alemã e brasileira.
Ao mesmo tempo, o Secretário de Estado reconhece, que «este
primeiro ano de governação foi duro». A taxa de desemprego atingiu
15% e os esforços exigidos a Portugal são colossais: subida de dois
pontos percentuais do IVA, para 23%, supressão de dois feriados
religiosos, a partir de 2013, supressão dos subsídios de férias e
de Natal para os funcionários públicos e os aposentados,
congelamento dos aumentos salariais, sobretaxa sobre os mais
elevados rendimentos e determinado tipo de viaturas…
Esta austeridade, personificada num primeiro-ministro que viaja
em classe económica, fez cair a economia. Embora menos do que o
previsto, considera Carlos Moedas (-1,6% em 2011 em vez de -2,2% e
-3% no ano em curso , contra -3,3% inicialmente estimados). É, no
entanto, indispensável que a situação estabilize no país vizinho e
principal parceiro económico, a Espanha.
Nota: Artigo publicado no dia 9 de agosto de 2012 na
revista «Le Nouvel Observateur» pela jornalista Sophie Fay.