«A nossa capacidade para colocar produtos e serviços no mercado
internacional» foi «inquestionavelmente», um dos pontos mais
positivos do balanço do processo de ajustamento da economia e das
finanças portuguesas nos últimos dois anos e meio, afirmou o
Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho em entrevista ao Jornal de
Negócios.
«Portugal viu crescer as suas exportações de 2010 a 2013 cerca
de 24%, o que é um resultado superior ao que conheceu a Espanha, a
França, a Irlanda ou mesmo a Alemanha», acrescentou.
Sobre o papel desempenhado pela Europa desde junho de 2011, o
Primeiro-Ministro referiu que esta «não pode estar mais presente,
desde logo, porque o programa de ajustamento foi desenhado já
institucionalmente num ambiente dentro da União Económica e
Monetária».
Por um lado, «a Europa criou respostas que, não sendo
definitivas, são importantes para acudir a este tipo de situação. O
próprio programa português é reflexo disto» acrescentou,
explicando: «A União Europeia condiciona muito aquilo que pode vir
a ser projetado para o futuro na medida em que - sobretudo para os
países que partilham a mesma moeda - há respostas que não podem ser
encontradas isoladamente».
Em relação à união bancária, Pedro Passos Coelho afirmou: «Não
tenho dúvidas que reduzirá o risco para as PME e ajudará a subir o
crédito porque vai separar o risco soberano do risco bancário».
Acerca do que correu menos bem, o Primeiro-Ministro ressalvou
que «muitos dos aspetos negativos que normalmente estão associados
ao programa de ajustamento, em rigor, devem estar mais associados
ao que nos conduziu ao pedido de ajuda externa do que propriamente
à aplicação das medidas que o programa continha».
Exemplificando, Pedro Passos Coelho referiu o caso da construção
civil: «O que aconteceu não é uma consequência das medidas que
tivemos de adotar, mas resulta de um nível de insustentabilidade do
próprio setor que esteve aliado a um forte endividamento do mesmo
ao longo de vários anos».
Quanto à estrutura do programa de ajustamento, o
Primeiro-Ministro afirmou: «Estava bem desenhado, embora mal
calibrado em alguns domínios», entre os quais, a base de partida
para o objetivo orçamental associada ao desenvolvimento do
programa.
Isto fez com que Portugal tivesse «medidas bastante mais
exigentes do que a Irlanda, apesar de ter partido do mesmo défice
orçamental» porque «a base de partida que foi definida pelo Governo
anterior quando apresentou o Programa de Estabilidade e Crescimento
(PEC) IV partia de uma perspetiva de défice irrealista, explicou
Pedro Passos Coelho.
E concluiu: «O Governo procurou, desde o início, mostrar que
estava apostado em cumprir o programa». «Esta foi a nossa principal
preocupação, para sermos levados a sério pela Europa e pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI)».