COMUNICADO DO CONSELHO DE MINISTROS DE 22 DE DEZEMBRO DE 1994

1. Nova lei do património cultural

O Conselho de Ministros aprovou hoje uma proposta de autorização legislativa a apresentar à Assembleia da República sobre a protecção do património cultural, que visa substituir a actual lei do património, que data de 1985.

Tendo em conta a necessidade de proceder à repartição de atribuições em matéria de classificação e preservação do património cultural entre o Estado, as Regiões Autónomas e os municípios, a urgência de regular a protecção do património cultural móvel face à abertura das fronteiras internas na Comunidade Europeia e a conveniência de introduzir alterações no quadro legal do património face à aprovação do Código do Procedimento Administrativo, entendeu-se vantajoso substituir a actual lei de defesa do património.

Entre as medidas previstas na proposta de lei hoje aprovada estão benefícios fiscais em sede de IRS e IRC para despesas com a conservação, recuperação, restauro e valorização de bens catalogados ou classificados.

Estão também previstas:

- formas de permitir a intervenção do Estado no estrangeiro, para efeitos de aquisição e protecção de bens nacionais ou relevantes para a cultura nacional;
- medidas preventivas para protecção de conjuntos e sítios enquanto não se verificar a regulamentação dos planos de salvaguarda a valorização;
- formas específicas de expropriação quando os proprietários de imóveis classificados, ou em vias de o serem, omitirem ou gravemente incumprirem as obrigações que sobre eles impendem, ou exportarem ilícita e culposamente bens culturais classificados ou em vias de o serem.

2. Privatizações

O Conselho de Ministros aprovou o termo do processo de reprivatização da Companhia de Seguros Garantia S.A. e o início do processo de privatização parcial da Portugal Telecom, S.A..

a) Companhia de Seguros Garantia, S.A.

Autorizada em 1990, a reprivatização das acções da Companhia de Seguros Garantia, S.A., que tinham sido directamente nacionalizadas em 1975 e que são detidas pela IPE - Investimentos e Participações Empresariais, S.A., - deparou com consideráveis atrasos. Tal ficou a dever-se à evolução da forma adoptada para o efeito (inicialmente através da prevista constituição de uma sociedade gestora de participações sociais que deteria também acções da Aliança Seguradora, S.A., da Aliança UAP - Companhia de Seguros de Vida, S.A., a UAP Portugal - Companhia de Seguros, S.A., para dar depois origem a apenas duas seguradoras, uma para o ramo Vida e outra para o ramo Não Vida, agora por recurso à fusão entre a Companhia de Seguros Garantia, S.A., a Aliança Seguradora, S.A., e a UAP Portugal - Companhia de Seguros, S.A.), mas também à própria evolução do mercado segurador e do enquadramento legislativo, que levou a uma intervenção correctora da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, para adequar a operação às exigências do Código do Mercado de Valores Mobiliários, entretanto tornado aplicável.

Considerando os efeitos benéficos da formalização da estratégia de actuação em grupo que as referidas seguradoras vêm adoptando, o Conselho de Ministros aprovou hoje o novo quadro de integração daquelas sociedades, necessário por se operar, através da fusão, a reprivatização indirecta das 282 186 acções da Companhia de Seguros Garantia, S.A., que tinham sido directamente nacionalizadas.

Nos termos do diploma hoje aprovado, por cada uma dessas acções o IPE passará a deter 3,47875986 acções da sociedade resultante da fusão (Aliança UAP - Companhia de Seguros, S.A.), podendo os trabalhadores da Companhia de Seguros Garantia, S.A., adquirir ao IPE, posteriormente, até um montante de 98 000 acções da nova sociedade, a um preço por acção igual a 80% da média das cotações das primeiras dez sessões da bolsa em que ocorram transacções de títulos da nova seguradora, com possibilidade de pagamento em duas prestações semestrais sucessivas de 50%.

O capital Social da Aliança UAP - Companhia de Seguros, S.A., será representado por 6 908 000 acções de valor nominal de 1 000$00, cabendo à Aliança Seguradora, S.A., 0,625174 acções da nova sociedade por cada uma das suas (6 000 000) a cabendo à UAP - Companhia de Seguros, S.A., 17,36868571 acções da nova companhia por cada uma das 70 000 acções representativas do seu capital social.

b) Portugal Telecom, S.A.

A primeira fase de privatização da Portugal Telecom (PT), empresa resultante da fusão da Telecom de Portugal, S.A., Telefones de Lisboa a Porto, S.A., e Teledifusora de Portugal, S.A., - cujo capital é detido pela CN, Comunicações Nacionais, SGPS, S.A., holding do Estado para o sector das telecomunicações, prevê diferentes operações.

A primeira, visando um reforço do fundo de pensões da PT, envolve uma transferência de acções da PT para a própria empresa, de forma a que o encaixe da sua venda reverta para esse fundo.

A segunda envolve a transferência das acções detidas pela CN na Companhia Portuguesa Rádio Marconi, SARL, para a PT, através de um aumento de capital, efectuado em espécie. A estas acções se juntarão, depois, as que os accionistas privados da Marconi queiram trocar por acções da Portugal Telecom, em condições favoráveis.

A operação de privatização propriamente dita ocorrerá através de uma operação de venda directa a um grupo de instituições financeiras e de uma oferta pública de venda em bolsa de valores nacionais, destinada ao público em geral e com condições favoráveis para os trabalhadores, pequenos subscritores, emigrantes, obrigacionistas da PT e detentores de títulos de participação dos CTT e dos TLP.

Aquela operação de venda directa faz-se com obrigação de ulterior dispersão das acções, designadamente em mercados internacionais, de forma a obter a posterior cotação da empresa em bolsas americanas e europeias.

As condições concretas das diversas operações de alienação serão aprovadas posteriormente por Resolução do Conselho de Ministros.

3. Alterações aos Códigos do IRS e IRC

O Conselho de Ministros aprovou hoje um conjunto de alterações aos Códigos do IRS e do IRC no sentido de introduzir medidas de combate à evasão e fraude fiscais tendo em vista preservar as receitas do Estado a assegurar a justiça na tributação.

Na Lei do Orçamento de Estado para 1994 foram identificadas as diferentes situações que reclamavam intervenção correctiva do legislador. Ao longo do ano foram introduzidas diversas alterações no sistema fiscal, à medida que se criava o enquadramento jurídico adequado à resolução desses problemas. Restavam apenas duas situações:

- A deslocação abusiva de rendimentos para paraísos fiscais;
- Uma lacuna na tributação de profissionais de espectáculo ou desportistas em Portugal.
Assim, os rendimentos relativos ao exercício em território português da actividade destes profissionais, obtidos através de sujeitos passivos de IRC controlados pelos próprios, passam a ser tributados, extinguindo-se deste modo a injustiça e possibilidade de fraude que resultava de, nesta área, serem apenas tributados, em IRS, os rendimentos obtidos directamente por aqueles profissionais.

Quanto à deslocação de rendimentos para paraísos fiscais estipula-se, por um lado, que passará a caber ao contribuinte demonstrar que as importâncias por si pagas a entidades residentes nesses países correspondem a operações efectivamente realizadas e não têm um carácter anormal ou um montante exagerado; por outro lado, determina-se que os lucros de sociedade residentes em países com regime fiscal claramente mais favorável sejam imputadas aos sócios residentes em território português, tendo em conta o capital social detido.

4. Metropolitano de superfície em Mirandela

Foi hoje aprovado pelo Conselho de Ministros um diploma que estabelece o quadro legal para o desenvolvimento do projecto do metropolitano ligeiro de superfície no Município de Mirandela.
Face à constatada inadaptação e onerosidade dos meios ferroviários tradicionais, com o consequente decréscimo de utilizadores da Linha do Tua, pretende-se agora com o metropolitano de superfície e à semelhança do que já foi realizado em outras regiões do país, contribuir para a criação de um serviço de transporte que responda eficazmente às necessidades da população, o qual se distingue pela comodidade, flexibilidade e periodicidade, bem como por uma diminuição dos encargos com a sua manutenção.

5. Apoios ao desenvolvimento

O Conselho de Ministros procedeu também a uma análise dos principais apoios ao desenvolvimento, dos quais se destacam:

I. Aprovação pela Comissão Europeia de um pacote de 25 projectos apresentados pelo Governo Português ao Fundo de Coesão - cujo montante de investimento global ascende a 160 milhões de contos e o apoio concedido a 96 milhões de contos.

Destaque para a aprovação da Nova Ponte sobre o Tejo, cujo investimento total de 120 milhões de contos obteve o compromisso de financiamento comunitário de cerca de 62 milhões de contos. No sector dos transportes foi também aprovado o apoio de 3,5 milhões de contos para a Ponte do Freixo.

A área do Ambiente conta com um apoio do Fundo de Coesão de 31 milhões de contos, sendo os principais projectos os seguintes:

- a ETAR e exutor submarino do Leça;
- o sistema de tratamento dos resíduos sólidos do Grande Porto - reciclagem multimaterial;
- a drenagem e tratamento de águas residuais de Barcelos;
- o equipamento das ETAR do Sistema de Despoluição do Ave;
- o reforço da capacidade do adutor de Castelo de Bode (2ª fase);
- as ETAR de Frielas e S. João da Talha (no rio Trancão);
- o reforço do abastecimento de água a Cuba, Alvito, Vidigueira, Portel e Viana do Alentejo a partir da Barragem do Alvito;
- a drenagem a tratamento de esgotos no Concelho de Loulé: ETAR da Quinta do Lago, Vilamoura e Vale do Lobo.
Em 1994, já foram aprovados pelo Fundo de Coesão investimentos na ordem dos 247 milhões de contos, envolvendo um apoio total de cerca de 142 milhões de contos. Com as aprovações de hoje fica esgotada a quota de 1994 prevista para Portugal.

II. O Comité Financeiro EFTA acaba de aprovar, ao abrigo do Mecanismo Financeiro EEE (Espaço Económico Europeu), a concessão de um subsídio de 5 milhões de contos (25,5 Mecus) e a bonificação de um empréstimo do BEI no montante de 25 milhões de contos (127,7 Mecus) para a Expansão da rede do Metropolitano de Lisboa à Zona da Expo'98 - Alameda/Expo'98.

Este projecto, envolvendo uni investimento de cerca de 53 milhões de contos, visa a construção do «Nó da Alameda» e do troço «Alameda/Expo'98» e respectivas estações, bem como a aquisição de material circulante (carruagens). O subsídio de 5 milhões de contos destina-se à construção do «Nó da Alameda» e os empréstimos às restantes componentes do projecto.

A Expansão da rede do Metropolitano de Lisboa à Zona da Expo98, Alameda-Expo98 é o primeiro projecto a ser apoiado pelo Mecanismo Financeiro EEE, que foi estabelecido pelo Acordo do Espaço Económico Europeu, assinado por todos os países da EFTA e da UE, em 2 de Maio de 1992, no Porto. Este Mecanismo visa apoiar, através da concessão de subsídios e de empréstimos com juros bonificados, o desenvolvimento e o ajustamento estrutural dos países menos prósperos da União Europeia - Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha.

III. No âmbito dos Programas Operacionais Regionais incluídos no Quadro Comunitário de Apoio 94/99, o Ministério do Planeamento e da Administração do Território já aprovou o financiamento de 700 projectos que envolvem um investimento de 62 milhões de contos e para os quais foi concedido um apoio do FEDER de 44 milhões de contos.

Dos projectos já aprovados 625 são de natureza municipal e intermunicipal, respeitando os restantes a acções de apoio à dinamização da actividade económica de base regional e a estudos.

Os investimentos nos projectos de natureza autárquica dirigiram-se fundamentalmente para sectores das acessibilidades, saneamento básico, renovação urbana e equipamentos desportivos, culturais e turísticos.

Assim, a execução do QCA II encontra-se em velocidade de cruzeiro, tendo sido assegurada uma transição entre o anterior e o actual quadro sem sobressaltos, designadamente através do apoio a projectos já lançados no anterior Quadro Comunitário de Apoio.

A distribuição geográfica dos investimentos é a seguinte:

- Na Região do Norte foram aprovados 235 projectos envolvendo um investimento de 20 milhões de contos com uma comparticipação FEDER de 14 milhões de contos.
Entre estes projectos destaque para:

Conclusão da Via Intermunicipal do Ave;
Conclusão da ETAR e ETA de Braga;
Continuação do Aproveitamento Hidroeléctrico do Alto Sabor: Abastecimento de Água - Bragança;
Conclusão da Barragem do Sordo em Vila Real;
Fundação Eça de Queirós em Baião;
Parque Aquático e Piscina em Esposende;
Escola para Crianças de Aprendizagem Difícil em Valença;
Novo Balneário das Termas de Monção;
Zona Industrial do Neiva em Viana do Castelo.

Salientam-se ao nível dos projectos de apoio à actividade produtiva:

Lançamento do Museu dos Transportes a Comunicações;
Projecto de Dinamização do Tecido Associativo Florestal da Região do Norte;
Apoio à Criação e Incubação de Empresas BIC - Porto;
Projectos de Apoio ao Desenvolvimento do Tecido Empresarial do Distrito de Bragança (NERBA) e do Reforço da Extensão Empresarial do Distrito de Vila Real (NERVIR);
Projecto para apoio a um Sistema de Informação de Apoio ao Desenvolvimento Económico da Região;
Projectos de Dinamização Turística da Região do Norte.

- No Centro foram apoiados 138 projectos que envolvem um investimento de 14,6 milhões de contos e uma contribuição do FEDER de 10,4 milhões de contos.

Entre estes, os mais importantes são:

Sistema integrado de Águas Residuais da Praia de Esmoriz;
Beneficiação e reforço de pavimento da EN 336 entre Luso e Pampilhosa;
Reabilitação da EN 348 entre Alvaiázere/Ansião//Ramal do Alvorge/Venda Nova;
Infraestruturação da Zona Industrial de Viadores.
- Na Região de Lisboa e Vale do Tejo já foram aprovados 200 projectos viabilizando um investimento de 17,8 milhões de contos com um apoio do FEDER de 2,7 milhões de contos.

Deste conjunto de projectos salientam-se pelo seu impacto na Região:

Terminal Multimodal do Vale do Tejo - projecto de construção de um conjunto de infraestruturas que tem por objectivo combinar as vantagens de transporte ferroviário e rodoviário, junto a um dos mais importantes nós rodo-ferroviários do País - Torres Novas;
Via de Cintura da Área Metropolitana de Lisboa Norte - troço que irá ligar os Concelhos de Cascais e Vila Franca de Xira (Alverca), construindo o anel viário periférico da Grande Lisboa que articula a rede viária municipal e nacional;
Promoção da Actividade Turística - visando a valorização de acções de promoção da região no país e no exterior e a criação das rotas da Vinha e do Vinho.

- No Alentejo foram aprovados 94 projectos envolvendo um investimento de 6 milhões de contos e uma comparticipação FEDER de 3,8 milhões de contos.

Destaque para os projectos:

Circular Interna de Beja;
ETAR de Beja;
Hospital Dr. José Maria Grande - Portalegre (Remodelação e equipamento).
Nos apoios à dinamização económica e à cooperação e promoção regional salientam-se os projectos relativos à prestação de serviços no sector das Rochas Ornamentais do Alentejo e a promoção dos Vinhos do Alentejo e Divulgação das Potencialidades das suas Regiões Vitivinícolas.
No Algarve foram apoiados 33 projectos cujo montante de investimento ascende a 3,1 milhões de contos, sendo o compromisso FEDER de 2,3 milhões de contos.
Entre estes salienta-se o apoio a:
Barragem de Alcoutim;
Emissário a ETAR do Burgau/Vila do Bispo;
Recolha de resíduos sólidos de Aljezur;
Drenagem de águas residuais de Vila Real de St° António;
Circular de Lagos;
Apetrechamento dos Serviços Clínicos do Hospital Distrital de Faro, ampliação e remodelação da Urgência do referido Hospital e equipamento laboratorial de suporte a acções de Saúde Pública;
Pavilhões Gimnodesportivos de Aljezur e Monchique.

Relativamente às acções de apoio à actividade produtiva salientam-se os projectos do Ninho de Empresas e acções de promoção e de participação em feiras nacionais e internacionais.

IV. No âmbito da Iniciativa Comunitária Têxtil Portuguesa, a Comissão Europeia acaba de aprovar um conjunto de 27 projectos de modernização de empresas têxteis nacionais que envolvem um investimento de 1,4 milhões de contos, um incentivo da ordem dos 546 mil contos, dos quais cerca de 400 mil contos correspondem a comparticipação comunitária.

A aprovação deste pacote, ainda em 1994, irá permitir o aproveitamento total da verba disponibilizada para o corrente ano.

Esta situação só foi possível em virtude de o Governo Português ter apresentado candidaturas logo que a iniciativa foi adoptada, no passado dia 15 de Novembro, pelo Parlamento Europeu.

Os projectos agora aprovados, constantes do anexo [não publicado neste Portal], integram-se nas medidas «Auditorias a Diagnósticos» e «Promoção de factores dinâmicos» da Iniciativa para a Modernização da Têxtil (IMIT), cujo programa foi formalmente entregue pelo Governo português à Comissão no passado mês de Outubro.

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